Calça de respeito, mas não respeito demais!

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readSep 9, 2022

Faz 47 minutos que estou sentada em frente ao computador. Li trechos de alguns livros e, dentre eles, puxei o “As mentiras que os Homens contam”, do Veríssimo, é claro. Li uma crônica sobre um casal que inventou uma mentira para não ir jantar na casa dos amigos: que um deles estava com um vírus africano.

Sempre lembro e repito a fala do Ariano Suassuna sobre a frase do Benjamin Disraeli, de que existem 03 tipos de mentiras: (a) a mentira; (b) a mentira deslavada; e (c) a estatística. Lembrei disso agora em tempos eleitorais. Oxe, mas que incrível coincidência! Deixa para lá.

Chegaram as credenciais para irmos à Comic-Con. Para quem não sabe, é uma espécie de feira para nerds. Fantasias, personagens, lançamentos de filmes de super-herois e blá blá blá. Eu adoro isso tudo.

Quando eu tinha nove anos, o meu pai tinha a idade que eu tenho agora. Éramos 03 filhos. Ele usava bigode, assava carne, matava porco para fazer linguiça e trabalhava muito dentro da sua “esquenta”. A minha mãe, com a minha idade, tinha 4 filhos (ela é mais nova que o meu pai e me teve com 17 anos).

E eu estou comemorando que chegou a minha entrada da CCXP que, aliás, é a foto da Galadriel (é um crachá lindo). Não sinto exatamente culpa, mas também não consigo deixar de remoer essas comparações. Quando alguém diz para eu comer melhor ou me manda para casa eu sempre respondo:

— Já fiz 12 anos.

A intenção é dizer que eu já cresci, mas, meu Deus, será que cresci mesmo? Eu falava, uma época, que queria uma casinha de madeira e de cerquinha branca — dois cachorros e dois filhos. E hoje não cuido mais nem do meu cachorro e dos gatos (a guarda compartilhada do Capitão virou unilateral, porque ele não gosta do ap).

Tenho livros e plantas espalhados por todos os cantos. Tudo revirado. Às vezes parece que a minha vida é revirada. Bom, a minha cabeça com certeza é porque gente normal não pode ter as manias que eu tenho. Olha, alguma dessas manias é de gente velha — bem da minha idade.

— Ô menino, tu lá tem idade para fumar esse negócio? Desce daí, criança, que tu vai me quebrar uma perna, pestinha.

Enquanto aparecem vídeos e mais vídeos de chás-revelação no Instagram, eu não canso de ver as falas do Patolino e do Pernalonga. Só de lembrar do Patolino dizendo que estava usando calça de shopping em sinal de respeito — mas sem camisa porque seria respeito demais — e do Pernalonga dizendo que a única coisa melhor que o terceiro cafezinho é o quarto cafezinho, eu já estou rindo aqui sozinha. Me divirto, sério.

Será que o meu coração e a minha mente pararam no tempo? Isso tudo para dizer que há um tempo pensava que me envolveria com A Política, por exemplo, porque achava muito importante (até estudei o livro de Aristóteles). E hoje quando vejo esses debates na televisão só consigo lembrar do Disraeli e do testamento do cachorro em O Auto da Compadecida —” enterra o cachorro porque ele deixou 03 contos de réis para o Sacristão!”. A estatística é um dos tipos de mentira.

Neste momento, fiquei preocupada porque está acabando a bateria do meu telefone e eu não posso deixar de assistir ao Patolino e ao Pernalonga depois. Ah, hora de fazer o quarto cafezinho, que é melhor que o terceiro e pior que o quinto.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.