Como as pessoas me veem?

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readJul 29, 2022

Tenho pensado muito sobre a minha personalidade ultimamente. Ultimamente, quero dizer, faz bastante tempo. Na real é um processo de uma vida inteira, né. Enfim.

Às vezes, eu me acho besta até demais, do tipo em que se pode montar e gritar: “Eita, cavalinho!” Em outras, sinto-me tão perversa que tenho medo do que tem do lado de dentro. Por exemplo, hoje de manhã eu saí atrasada — ando me atrasando — e, para variar, o sinal fechou umas 03 vezes até eu conseguir passar por ele.

Eis que antes da metade do caminho um fulaninho — que eu sei quem é porque eu decorava placas de carro (sim, sim, sei, sou estranha e blá blá blá) — , saiu de trás de mim na fila e andou até quase a metade do caminho. Pronto. Cortou a fila.

Lá de onde eu estava, fiquei assim: “Não deixa entrar, não deixa entrar, não deixa entrar.” Deixaram. Puft. Quando o sinal abriu, fiquei: “Que fique preso, que fique preso, que fique preso.” Não ficou. Foi o último a passar. Por uns 10 segundos, mentira, uns 05, passou pela minha massa encefálica (um morador de rua me ensinou essa expressão uma vez e eu achei daora) que eu fiquei desejando o mal alheio.

Poxa, Eloísa, isso é feio. Cara, se te virar do avesso, ninguém olha. Mas decorridos os 05 segundos eu nem me arrependi de ter pensado isso. É aí que está o negócio. Dizem que Deus perdoa os arrependimentos, mas e se a gente não se arrepende?

Oxe. Tudo bem que desejar que a pessoa fique presa no trânsito não é lá muito moral. Mas furar fila é? Talvez ele estivesse atrasado para o trabalho, mas eu também estava. Eu me atrasei porque inventei de escovar o cabelo. Ele se atrasou porque uns minutos antes vi que estava parado no supermercado (sim, já falei ali em cima que sei que sou estranha).

E eu ainda não tinha escrito A Coluna da semana. Mandei mensagem para a minha amiga-editora e pedi desculpas — era para ter escrito um dia antes. A danada respondeu com um áudio de quase 02 minutos tão contente — isso, às 08h — que me contagiou.

Momentos antes tinha visto uma manifestação jurídica que me provocou palavra bem mais pesada — panaca. A minha parceira da frente riu porque fazia tempo que não via alguém usar esse xingamento. Não foi na cara da pessoa, ou foi? Foi recebido via e-mail e eu estava com o papel nas mãos — olhando para ele — , então, é pelas costas ou não? Boa pergunta.

Mas o áudio me deu um sopro de alegria e eu esqueci rapidão.

Como será que as pessoas me veem? Isso sempre importou tanto. Até demais. Será que eu preciso desejar menos que as pessoas fiquem presas no trânsito ou me importar menos? Ou um pouco de cada?

Imagem de Peter Adams-Shawn

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.