Dependência ou Conexão?

O uso real da Rede Social

Patrick Moraes Sobrinho
a coluna
3 min readApr 26, 2024

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Há alguns meses, um colega mencionou estar procurando maneiras de reduzir o uso excessivo das redes sociais, especialmente no Instagram. Sugeri que, se ele usasse principalmente o celular, uma dica que poderia ser útil era utilizar uma ferramenta oferecida pelo próprio aplicativo, localizada em uma das abas de configuração: Tempo Gasto/Limite Diário. Dessa forma, o próprio Instagram o lembraria de fechar o aplicativo. É um tanto cômico, se não trágico, perceber que você já ultrapassou seu limite diário com uma notificação, quase como “sua cota diária de curtidas em memes de pets acabou; volte ao trabalho”.

É inevitável não pensarmos que existe, sim, uma dependência das redes sociais, a necessidade de verificar notificações incessantemente e a compulsão por compartilhar cada momento de nossas vidas têm contribuído para uma dependência crescente e até mesmo preocupante. O fluxo de informações, a comparação constante com as vidas aparentemente perfeitas dos outros e a busca por validação através de curtidas e comentários pode impactar de forma negativa a nossa saúde mental.

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Foto de Igor Omilaev na Unsplash

Estamos conectados 24/7, o espaço se amplificou, os celulares, por exemplo, se incorporaram às nossas mãos, e temos a “necessidade” de nos mantermos conectados e ligados o tempo todo.

Acredito na importância de reconhecermos que essas ferramentas são parte integrante de nossa realidade. Vivemos numa era de transformações profundas, onde a internet e as redes sociais desempenham papéis significativos em nossas vidas.

Muitas pessoas utilizam as redes sociais também como uma extensão do seu trabalho. Pensar na sua exclusão talvez não seja uma decisão sensata. A integração das redes sociais nas atividades profissionais tornou-se tão prevalente que sua exclusão pode resultar em uma desconexão significativa com colegas, clientes e oportunidades de negócios. Ignorar esse meio de comunicação poderia limitar a visibilidade e a acessibilidade do indivíduo no mercado de trabalho. Inclusive, atualmente, para minha profissão, utilizar as redes sociais se tornou algo muito necessário.

Lembra sobre o possível impacto na nossa saúde mental? É interessante pensar que a dependência das redes sociais também pode ser analisada de outras formas, e uma delas discuti no último encontro que tive com meu grupo de estudos, que seria através da ótica do desejo e da falta, conceitos centrais na teoria lacaniana.

A constante busca por conteúdo, a necessidade de estar sempre conectado, sugere um desejo insaciável, um vazio que busca ser preenchido pela próxima notificação, pelo próximo post, numa tentativa infindável de satisfazer o “desejo do Outro”. Aqui, o Outro não apenas simboliza os outros usuários das redes, mas a própria rede como um grande Outro, uma entidade que demanda nossa atenção constante e nos molda segundo seus algoritmos e lógicas.

Concordar com esse raciocínio implica, em certa medida, reconhecer as redes sociais como um espaço onde projetamos nossos desejos, medos e ambições, mas que não deve ser um substituto para as relações humanas reais, nem um palco para a realização de uma versão idealizada de nós mesmos.

Para navegar de forma saudável nas redes sociais, consideraria adotarmos uma postura de reflexão, questionando não apenas como utilizamos essas ferramentas, mas por que buscamos nelas o que buscamos. Garanto que existem formas de utilizá-las de maneira mais saudável e consciente, basta encontrar seu próprio equilíbrio.

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Patrick Moraes Sobrinho
a coluna

em horário comercial: Psicólogo Clínico; nas horas vagas: escritor de textos nunca publicados, profissional de conversa-fiada