Histórias, nossas histórias

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readFeb 10, 2023

Alguns dias por semana tenho ido correr. Quando alguém me pergunta se faz tempo que eu pratico corrida, respondo que faz bastante tempo que eu pago a planilha, mas cumprir que é bom, não necessariamente. Ah, vá, não cumpro nunca, pronto.

Para mim, fazer exercício só é bom quando acaba. Mas assim, a gente segue tentando não fazer de absolutamente tudo um martírio, né. Perto de onde eu moro tem um casal que vende bolos e pães (talvez outras coisas), todos os dias em que passo ali os dois já estão com a “vendinha” montada em uma tenda no terreiro de casa.

Se eu sair às 06h em ponto, encontro um senhorzinho de chapéu azul caminhando, sempre de cabeça baixa e, aparentemente, falando sozinho. Sempre me pergunto no que será que ele estaria pensando, porque cargas d’água eu não sei, lógico que me é claro que não é da minha conta.

Tem um outro rapaz que também corre e, na minha cabeça, a alcunha dele é “cara da camiseta da Ellus”; sempre me pergunto como que uma pessoa coloca essas camisetas — que eu acho que são caras — para encharcar de suor.

Hoje, ainda, teve bônus. A criançada estava esperando o ônibus escolar e havia dois cachorros caramelos sentadinhos junto com eles. Ambos estavam com adornos daqueles que os bichinhos ganham quando vão no petshop, então eu supus que estavam ali fazendo companhia aos seus respectivos doninhos.

Também reparei que havia uma sacola cheia de pães salgados pendurada em frente a um mercado/venda, sei lá o que é. Não sei se alguém esqueceu, se era uma encomenda e logo poderiam vir buscar… não faço ideia, mas me distraí no saco de pães. Vou reparar se ele está ali todos os dias.

Todas essas coisas eu percebi em alguns dos raros momentos em que eu levanto a cabeça e vejo. Usei o verbo “ver” porque não raro eu olho, mas não vejo. São coisas diferentes. Assim como não raro eu ouço e não escuto. Só comer que eu como e como mesmo. Mas os outros sentidos estão, na maioria do tempo, totalmente no automático.

Lô, te vi hoje.

Ah, desculpa, estava sem os óculos.

Ou seja, talvez vi, mas não vi. E não é por causa dos óculos, eu nem preciso usá-los o tempo todo, apenas para longos períodos de leitura e, especialmente, se for em frente às telas. Na maior parte do tempo ele serve mais como uma espécie de esconderijo, sei lá. Mas voltando, tenho falta de atenção total. Assistir a um filme, geralmente, é um fardo, porque preciso voltar as cenas o tempo todo.

Certo. Tudo isso para dizer que é interessante se dar conta que todo mundo tem histórias que podem ser similares ou não às nossas. É muito difícil imaginar o que se passa na cabeça de cada um; na minha mesmo, que a maior parte do tempo é tipo uma sucursal de Alice no País das Maravilhas (ninguém sabe para onde vai, é bagunçado e não tem gerência), parece que transparece algo bem diferente.

Por falar em Alice, eu meio que continuo sem saber para aonde ir; e mesmo assim, não é qualquer caminho que serve.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.