Melhor que eu

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readJun 7, 2024

Para quem assiste a vários vídeos na internet, não é raro aquelas frases de motivação no sentido de que devemos nos superar todos os dias. Sempre no estilo “seja a melhor versão de si mesmo”.

Mas que baboseira. Puro suco da moda daquela turma que nunca empreendeu e ensina a empreender. Tudo bem que o negócio vende, vai. Mas cara, sou é só essa que vos fala que tem dia que só quer existir?

Para falar bem a verdade eu meio que não entendo aonde essa turma quer chegar. Então me sinto meio-muito burra. Melhor que eu quando? Meu melhor peso foi há anos, dali em diante foi só ladeira abaixo.

Meu cabelo depende do dia. Tem dia que parece que saiu de comercial de shampoo, tem outro que parece que dormiram uns passarinhos em cima, e o passarinho menor apanhou da mãe porque ficou com medo de pular e aprender a voar.

Minha inteligência, então, nem se fala. Tem dia que tô de boa, tem dia que me sinto a gênia porque entendi a nova “trend” que estão fazendo no Instagram.

Só se fizesse uma listinha, aí a listinha de amanhã teria que superar a listinha de hoje, e assim sucessivamente. Superar em quantidade de coisas a fazer, por exemplo? Aí que tá, teria que escolher uma métrica ou unidade de medida — sei lá como se fala.

É aquele eterno looping de comprar caderno-livro-curso para aprender a organizar a vida. É, vai dizer que nunca te interessou aquele vídeo do “te ajudo a ganhar mais dinheiro” ou “aprenda o segredo do sucesso”? Sei. Se não vendesse, não tinha tanto para vender.

E voltamos à estaca zero, ou melhor, ao primeiro parágrafo (aqui primeiro parágrafo escreve assim porque não é artigo de lei), que é dar bola para coach maluco que manda a gente instalar o drive. É o quê? Tem uns vídeos que até são engraçados, vai, eu curto e rio.

Mas o maior barato da internet é descobrir que não estamos sozinhos. Por exemplo, há uns dois minutos minha irmã me mandou um meme em que o personagem do quadrinho fazia uma cara de sem vergonha enquanto comia algo que o doido sabia que lhe faria mal. Imediatamente respondi:

Nós.

E é. Lá vai dona Eloísa virando a esquina para comer uma bananada. Pode? Não pode. Então faço o quê? Compro uns sachês de Eno e deixo guardados para quando me der azia. Você pode ler isso e dizer que estou judiando do meu templo. Mas, por outro lado, pode enxergar que faço a minha melhor versão de si mesma quando estou um passo à frente da azia — porque comprei o Eno antecipado.

Puuuuuf. Eu sei. A cabeça explodiu.

Entendeu o que quero dizer? Qual é a melhor versão? Depende, uai. Depende o que cê quer da vida. Mas é legal descobrir que a gente não precisa ser melhor em tudo, nem melhor que nós. Não precisamos saber tudo e, diria Airton Senna, não existe mérito de uma só pessoa.

Uma coisa que é verdade é que somos a média da turma à nossa volta. Então definitivamente tem lugar em que a gente não cabe mais. Isso quer dizer que ser melhor, às vezes, é só ir embora — ou deixar ir.

Beijo para quem é de beijo e abraço para quem é de abraço.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.