Não disse que voltava?

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readApr 29, 2022

E voltei. Para A Coluna.

Pronto. Mudança feita. As últimas coisas trazidas foram as roupas. Quem precisa de roupa? Posso usar folhas de samambaia e de aspargo, né? Nã nã não. Nem de brincadeira eu machucaria alguma das meninas para isso (plantinhas).

Não consegui trazê-las todas ainda (as plantas). Na verdade, acho que apenas 1/4 masomeno. Mas falando sério, voltando às roupas. Há um tempo eu resolvi me desfazer do guarda-roupas que eu tinha. Quando o comprei eu tinha 17 anos, lembro que fiz em 05 parcelas que custavam quase o meu salário cada uma. Na época, eu recebia uns R$ 350 pila e o compromisso era algo tipo R$ 290.

Bem. Os anos passaram e ele resistiu bravamente à umidade de quem mora entre um rio e um barranco. Mas chegou a hora, e lá se foi. Desde então, eu tenho guardado as roupas em uma arara improvisada presa à parede.

Quando decidi sair de casa, comprei uma arara bem menor que a que eu tinha. E agora? Não cabe quase nada. Hora de se desfazer do que não se usa mais. E é tanta coisa. Durante anos guardei vestidos na esperança de usá-los de novo (depois de emagrecer). Mas agora, além do peso, eles têm outra inimiga: a fase da vida.

Não é só a idade, é a fase. Trabalho, ambientes, forma de se ver. Têm coisas que simplesmente não cabem mais — em vários sentidos. E convenhamos que eu já sei disso há muito tempo. Mas, gente do céu, que difícil que é cortar cordas. Bom, coloquei-os todos em sacolas e, quanto a estas, debaixo da cama.

Por falar em cama, já contei aqui que sempre arrumo a cama e isso tem um motivo muito importante: medo de encontrar uma cobra. Mas não só. Também tenho o costume de olhar debaixo da cama quando entro em casa. Durante o dia chego a fazer isso umas 3 ou 4 vezes.

Mas é o medo do escuro que acaba comigo. A luz do corredor fica acesa, mas parece que não basta. A vontade é de deixar as 3 da sala-cozinha também. Porém o medo da conta de energia é um tantinho maior que o do escuro.

Será que não tem como eu colocar esse medo em uma sacola e esquecer debaixo de algum móvel também? Ô, coisinha chata. Fico pensando à noite, quando deito: Elô, tem uma família do outro lado de quase todas as paredes. Têm crianças aqui do ladinho— que aposto que dormem no escuro. Mas não adianta.

Ainda estou sem pia, o que não tem se mostrado um grande problema. Só é um pouco silencioso demais. Sou “apreciadora” do barulho. Opa, exatamente enquanto escrevo isso — juro-alguém ligou um sonzinho alto, tipo uma música típica gaúcha. Oba! Há vida aqui.

Como a Maria fuxiqueira que sou, até fui dar uma espiada na janela para ver daonde vinha. Ops, desligaram. Não não não, bota de novo, por favorzinho. Sei lá, alguma coisa em mim pensava que morar em apartamento era tipo cortiço — e que pena que eu estava errada.

Sei que algumas pessoas que me conhecem vão ler isso aqui e dizer: Ah, Elô, para, tu é meio antissocial e se esconde. Tá, eu sei. Mas uma coisa é escolher se esconder, outra completamente diferente é a sensação de se esconderem da gente.

Bem que o meu professor-malvado-favorito (brincadeeeeeira) escreveu na publicação da semana passada: A vida nunca mais será a mesma. Isso não necessariamente é bom ou ruim.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.