O que que eu tô fazendo da vida?

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readMay 27, 2022

Sempre que eu vejo/ouço um acontecimento triste/injusto me vem à cabeça a mesma indagação: o que eu estou fazendo da minha vida?

O Jesse era mais novo que eu e o Shurastey era mais novo que o Capitão. Viveram inúmeras aventuras e, acredito, devem ter sido muito felizes. Meu amigo falou uma coisa interessante: “Acredito que mesmo que ele soubesse que agora seria o fim, teria feito tudo igual.” Concordo.

A morte está por todos os lados, todos os dias. Mas, quando um fato toma uma proporção maior — no sentido de publicidade —, parece que mexe mais. Meu cérebro — ou talvez meu coração — sempre me canta a bola: “E dizer que um dos teus sonhos é ir ali no Peru, e ainda não foste.”

Desde criança eu dizia que seria escritora. Então, quando mais velha, pretendia cursar Letras ou Jornalismo. Eu só queria escrever. E fui cursar Administração. Agora vou cursar Letras. E cursei pós-graduação em Finanças. E agora vou cursar Letras. E cursei Direito.

O Direito veio porque pretendia estudar para concurso para Delegada de Polícia Civil. Não sei se já contei aqui, mas o primeiro concurso que prestei foi com estudo pós-edital (escrivã de Polícia Civil) e, nem acreditei, mas passei (não dentro do número de vagas, mas dentro da classificação para a segunda fase).

Reprovei na prova física e, de quebra, tive uma distenção muscular. Sentei na frente daquela Academia em Florianópolis e chorei que nem criança pequena — um pouco por causa de dor e, mais pela decepção, própria e alheia.

Então continuei estudando e me inscrevendo para os concursos. A maioria eu nem fui prestar — aconteceram outras coisas pelo caminho. Estudei Direito Penal e Processo Penal a faculdade inteira e agora estou no Direito Público. É. Esse trecho aqui é no sentido de: “Tu nunca acerta, né, minha filha?”

Será que algum dia eu terei coragem para pegar o Lolomóvel e ir para o Peru? Ele já foi ao Uruguai, mas nem se compara.

Tenho o hábito de digitar e olhar para o lado direito — já percebi. No trabalho isso me leva à janela; em casa me faz olhar essa estante enorme de livros que eu não tenho tempo para ler. E nem escrevi o meu para não estar lido na estante de alguém.

Bom. (Uma vez fiz um curso — na época que eu não falava mal de coach — em que o cara dizia: “Quando alguém inicia a frase com ‘bom’, vocês respondem: ‘muito bom’”. Blá blá blá. Bom. Bom. Bom. Fecho aspas).

Bom. Ao menos já sei o que não esquecer de levar na mochila se algum dia fizer uma viagem interestelar: uma toalha.

O Veríssimo é um pouco ácido e diz que “O futuro era muito melhor antigamente”. Será que era? E o futuro de agora, será que é melhor que o futuro que virá depois? Oxe.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.