O santo

caroline machado
a coluna
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3 min readFeb 14, 2022

Na última semana, enquanto estudava, ouvi a seguinte frase: “Quando o santo não desce, a gente puxa o santo pelo pé”. Foi meu professor quem disse, citando algum escritor que abominava a ideia de inspiração e acreditava que a escrita precisa de algo além disso. Concordo, mas só agora, porque já fui do clube da musa por muito tempo.

Voltemos ao santo.

Uma das consequências da falta de frequência em algo que supostamente necessita de um je ne sais quoi é que o santo emburra e não desce. Isso serve para escrita. E também para a academia, os estudos, o cozinhar. Você nomeia, eu digo que serve para o que você nomeou e seguimos assim.

Eu nunca gostei de meditação. Pela via da honestidade, ainda não gosto muito, porque não consigo meditar. Falta o santo porque falta a frequência. Porém, se tem algo que caminha de mãos dadas com a meditação, é a yoga.

Imagem via Pixabay

Assisti, há algumas dezenas de dias, um daqueles vídeos de alguém fazendo qualquer coisa durante 30 dias. Era a pessoa fazendo yoga, no caso, e a conclusão foi tão positiva para a prática que fui digitalmente influenciada, peguei o tapetinho de ginástica velho aqui de casa e comecei no dia seguinte.

Foi uma coisa horrível. A intenção era dar uma relaxada no trapézio, não ficar pensando em idiota defendendo a possibilidade de criação de partido nazista, coisa simples. Cabecinha pra cá, cabecinha pra lá, estica os bracinhos, respira, respira, respira, etc. Decidi assistir um outro vídeo, para iniciantes mesmo, aí a coisa fluiu.

Foi horrível igual. Suador, dor nas esticadas, falta de equilíbrio, aquela coisa toda. Quem diz que é fácil, está de brincadeira ou não tem o condicionamento físico de uma lontra (o meu caso). No final, quando deitei com a barriga para cima e a mão sobre o coração, tudo valeu a pena. Só me custou uma desidratação e um dia inteiro com dor nos músculos das pernas, tudo certo.

Isso foi na semana passada. Me empolguei e agora não faço apenas uma prática diária, mas duas — uma para despertar quando amanhece, outra para relaxar quando está perto da hora de dormir — , e nem precisei que santo nenhum baixasse. Veja só o poder da rotina e da endorfina na vida da pessoa.

Confesso que hoje, sexta-feira, faltei. É porque quem não baixou foi minha alma de volta para o corpo e, quando finalmente me encontrei flutuando pela casa, não tinha mais tempo. Amanhã, com sorte, baixa cedo.

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caroline machado
a coluna

escritora e estudante. autora de “Como matar Olga?” (2019). co-criadora da @acoluna.