Oxe, bom dia!

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readMay 13, 2022

Quase todo vagabundo tem sorte. Eu tenho, às vezes, confesso. O medo do escuro foi resolvido, quer dizer, já estava resolvido, eu só não tinha percebido ainda porque vivo em Nárnia. Onde eu moro tem lâmpadas espalhadas pelo muro a cada, sei lá, 3 ou 4 metros. Uma delas fica bem de frente para a janela do meu quarto e, como eu moro logo no segundo andar, fica muito claro à noite. No dia em que percebi, dei uns 10 pulinhos de alegria, porque não preciso deixar luzes acesas e durmo com a claridade.

Pronto. Eu viria morar aqui só por causa dessa luz. Fofa, já diria Rita Lee.

Algumas coisas viram costume. Academia poderia ser uma delas. Pior que dizem que é. Anos da minha vida eu passei querendo pintar uma porta de roxo, que nem a da Mônica, de Friends. Não me pergunte por que eu nunca tinha feito, porque não sei. Agora que ela está ali, já me acostumei. Quase perdeu a graça.

Falando em Friends, mais do que ter a porta parecida, eu queria me parecer com a Mônica. Tão organizada, toda metódica e cheia de energia. Mas nem passa longe. Ou talvez poderia ser como a Rachel, que é super corajosa e estilosa. Qualquer pessoa que saiba o mínimo de mim e o mínimo de Rachel vai dizer que isso não existe. Pantufa e meias, lembra?

E a Phoebe? Toda alternativa. Tudo está beleza e viva a mãe a natureza. Não dá, sou reclamona demais. Não daquele tipo a ponto de responder um cumprimento matinal com: “Bom dia para quem?”. Bom dia, é bom dia, oras. Que tipo de escuridão paira sobre a áurea de alguém para responder um inocente “bom dia” com isso?

Bom, voltando. Dos 06 personagens principais, descobri que me identifico com o Chandler. O que não sabe dar conselhos, no máximo faz uma piada sem graça ou um comentário sarcástico. Fui “diagnosticada” como alguém que se “esconde” atrás do humor. Interessante. Já pensou se pudéssemos escolher as nossas características, tanto as físicas quanto as de personalidade?

Bom, na verdade, para as físicas há um caminho mais fácil. Como diz o Veríssimo, a plástica é uma espécie de escultura com anestesia (se bem que acho que faria até sem se fosse para ficar com a cinturinha da Shakira). Quanto à personalidade, o buraco é mais embaixo.

É claro que a gente pode e deve se policiar e blá blá blá. Tentar não dizer tanta besteira e olhar o lado bom e blá blá blá. Mas e se pudesse fazer com que isso ficasse natural? Essa que vos fala, por exemplo, é cheia dos filtros. Tanto que acaba falando mais bobagem por querer consertar o que não precisa ser consertado.

Mas olha só. E se, a partir de amanhã, eu passasse a ter a paciência de Jó? E se pudesse juntar Mônica, Rachel e Phoebe e tirar só o que eu acho legal de cada uma? Oxe. Seria daora. Mas não rola. Olha só, por causa desse “oxe” me perguntaram essa semana se eu era de Minas Gerais. Eu nem sabia que falava “oxe” por lá.

Falando em expressões, olhei para o quadro do Suassuna que eu tenho aqui na parede agora e senti ele me julgando. É que peguei o costume de falar o tal do “show” e o Ariano dizia que, para ele, show era uma interjeição para espantar galinhas. Se eu pudesse escolher a inteligência de alguém, acho que seria a dele. Daria um milhão de portas roxas para ter escrito “O Auto da Compadecida” e divertir as pessoas daquele jeito.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.