Pensei que fosse amor

Ella Reis
a coluna
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3 min readNov 17, 2021

Mas era só fogo no rabo.

Imagem do filme “Betty Boop: O Terrível Barulho”, de 1935.

Não tem nada mais poderoso nesse mundo do que os hormônios entrando em ação. Sério, chega a ser bizarro a forma como eles reagem aos mínimos estímulos do ambiente.

Eles são maestros cruéis e insensíveis, não respeitam opinião, ignoram autoridade, fazem o que querem e exatamente na hora em que desejam, dane-se a consequência, digo, consciência. Ela que lute depois.

Em uma sala de bate-papo online sobre ciclo menstrual, algumas mulheres e garotas relataram o quanto sofrem com a oscilação hormonal no período menstrual, foi uma troca de experiências mais incríveis da qual já participei. Começou com as garotas estressadas, desabafando, e, do nada, o tema mudou e eu não parei de rir por umas duas horas.

Algumas participantes comentaram que a irritabilidade e o choro são os acometimentos mais recorrentes, enquanto outras citaram o Tesão com T maiúsculo como o vilão que mais as desestabiliza e as faz perder completamente o rumo, e eu não discordo. Nada, absolutamente NADA — só que em negrito — nesse mundo se equipara, estraçalha, esmiúça, fere mais a dignidade de uma mulher do que o período fértil.

E vocês aí pensando que as mudanças de humor eram as piores. Espera até chegar na ovulação. A libido sobe assustadoramente, e você não pode ver um homem bem vestido, cheiroso, de cabelo preto e olhos claros caminhando na rua que fica pensando no passado sofrido dele e já quer dar uma de centro de reabilitação. Algumas até perseguem padres — e assim surgem as mulas sem cabeça.

Fique tranquila, isso não acontece porque você é “uma cachorra, bandida”. O aumento da libido é causado por essas praguinhas, que adoram brincar com o nosso ciclo vital como se fossem os “divertidamente”, apertando vários botões do painel de controle ao mesmo tempo, só para ver se o nosso cérebro dá pane. Se analisarmos a fundo, o modo ariranha ativado não é tão ruim assim quando comparado às outras fases.

É, você se sente poderosa e gata, pronta para atacar e arranhar a presa, vulgo, pretendente/boy/crush — acabaram meus palpites —, por causa das substâncias extremamente controladoras e possessivas que podem estar circulando na sua corrente sanguínea neste exato momento e sussurrando no seu ouvido o dia inteiro para fazer aquela loucura de amor que só ousou imaginar — vem de chicote, algema, corda de alpinista. Parei. Porém, o que essas coisinhas lindas não contam é que, depois da noitada, o curto circuito cerebral é resolvido e a memória começa a retornar gradativamente, e aí acontece aquilo que mais detestamos: bate o arrependimento, e se livrar do peso na consciência pode custar muitas sessões de terapia.

Então, cuidado para não cair no golpe telefônico dos hormônios. Sugiro que pense bem nas consequências a longo prazo antes de se deixar levar pelo “fogo no rabo”. Se esse comentário não te convenceu, lembre-se que fralda descartável é cara e o tarja preta não se compra sozinho.

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Ella Reis
a coluna
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Extrovertida e introvertida, otimista e sarcástica. Humor, apetite e imaginação exagerados.