Round 6

caroline machado
a coluna
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3 min readOct 17, 2021

Feriadão, uma coisa deliciosa. Para o último, os planos envolviam jogar vôlei de areia, dar uma volta de bike, pegar um sol nas canelas branquelas e curtir, mas algum dos tantos deuses da chuva resolveu nos castigar (ou abençoar) com dias e noites de tormenta e água que torrencialmente fazia com que tudo — e não posso frisar isso o suficiente –, tudo, ficasse úmido e pegajoso.

Para todos os problemas, entretanto, uma grande invenção da modernidade é a solução: a televisão. Era sexta-feira (podia bem ser sábado, não me recordo) à noite, a chuva batia na janela e decidimos assistir a série do momento, Round 6.

Imagem extraída do seriado “Round 6”.

A premissa é bastante interessante e simples: centenas de devedores são chamados para participar de um jogo que lhes renderia dinheiro suficiente para quitar todas as dívidas, dar uma voltinha pelo mundo, e ainda fazer um pé de meia. O único detalhe é que, uma vez dentro do jogo, ninguém pode sair, senão morre. Também não pode perder, senão te matam. Quanto mais você ganha, mais querem te matar e, bom, a única coisa que não mata é ir passando pelas fases até chegar na sexta e última — daí o nome do seriado.

Gosto bastante de filmes de ação com violência — apesar de abominá-la no “mundo real” –, então o banho de sangue não me chocou, em especial porque considerei a série boa. Não pretendo dar mais informações acerca do seu conteúdo, porém, é fácil perceber que, no fundo, a crítica é sobre o capitalismo. Mais especificamente, aos extremos que este sistema econômico leva o ser humano e como, por mais que queiramos, é bastante difícil abandoná-lo. O ponto é que nem o próprio seriado conseguiu escapá-lo.

Ao término do nono episódio, a trama se resolve — deixando pontas soltas, o que não é problema para mim — sem deixar um gosto de quero mais. As histórias são assim, via de regra. Elas têm começo, meio e fim (e um pós-vida que somente é bom porque não existe além do pensamento de quem as observa). Todavia, Round 6, maior sucesso da Netflix desde a estreia da plataforma, foi renovada e terá uma segunda temporada. Por quê?

Ora, Caroline, porque rendeu dinheiro para dar com um pau. Justo. Não tenho como contra-argumentar o óbvio, o que não me impede de matutar a respeito, pois nós consumimos esse conteúdo e fazemos sangrar a criatividade alheia (e o nosso intelecto) ao postergar coisas que simplesmente não precisam de nada além de um fim.

De todo modo, é possível que isso seja apenas reflexo das nossas atitudes diárias com relação aos empregos que detestamos, relacionamentos que nos fazem infelizes, estilos de vida que não satisfazem os nossos desejos, etc. Parece que o último episódio dos diferentes aspectos da vida cotidiana é prolongado como um alarme deixado no modo soneca de novo e de novo. Mais cinco minutos, mais cinco minutos, mais cinco minutos, e lá se foi a vida.

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caroline machado
a coluna

escritora e estudante. autora de “Como matar Olga?” (2019). co-criadora da @acoluna.