Segura a minha mão

Eloisa Capraro
a coluna
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2 min readMay 17, 2024

Já contei para vocês que agora eu tenho um pé de café na minha sala? E nem foi roubado, juro.

Ilustração de Lina Kusaite

Não posso dizer a mesma coisa de uma outra plantinha que pegamos pela estrada, no mesmo dia, mas, em minha defesa, é daquele tipo que nasce sozinha e estava quase dentro de uma mini cachoeira, que parecia não pertencer a ninguém.

Por que eu digo que não parecia pertencer a alguém? Ah, para, agora vocês viraram fiscal de requisitos de propriedade? Brincadeeeeira, hahahha.

Garimpar duas plantinhas, uma com autorização e outra sem, foi como um suspiro revigorante, ou melhor, envergonhado, para cuidar das que estão lá, aquelas que não subiram ao reino das folhagens ainda pela teimosia.

Os pais têm o costume de dizer que a gente quer o que não tem, é meio que uma sabedoria vinculada à maternidade e à paternidade (qual é a palavra para os dois?). Tipo uma criança que tem uma boneca rosa e quer uma azul ou que tem uma verde e quer uma amarela.

É a sensação de ter algo novo? De trazer um negócio para casa e brincar cinco minutos? Não sei. Pode ser que sim, mas pode ser que não. Porque tem coisas que eu não quero brincar de jeito nenhum. Por mim precisa nem existir, não, para ser bem sincera.

Por exemplo, cor de carro verde claro misturado com verde musgo, ah, cara, verde-caganeira, pronto, falei. Se alguém me pedir a opinião vou ter que falar, tem como, não.

Algumas respostas a gente até segura, quase responde, mas aí Deus segura a nossa mão. Tipo hoje, quando Thalita pediu para eu fazer outro e-mail, pensei em duas coisas: a primeira foi em dizer que eu até faria, mas um e-mail falso; a segunda foi em dizer que se eu tiver uma filha não vou colocar o nome de Thalita. Mas Deus segurou minha mão, e então eu fiz o que ela me pediu.

Nem só Deus; às vezes, os olhares das pessoas que nos conhecem seguram a nossa língua também.

Recapitulando aqui. Eu saio de planta-ganhada e cruzo com planta-pegada-emprestada-que-não-será-devolvida; aí eu caminho pelo vale das crianças pedichonas que pedem coisas novas e pelas vitrines dos carros verde-caganeiras. Parei na Thalita.

Aí depois me mandam lá do Mato Grosso do Sul perguntando se minha saúde mental está em dia e eu não entendo por que motivo. Hahaha. Tem importância não, maluco. É nessas viagens da minha cabeça que eu sou mais feliz.

Beijo para quem é de beijo e abraço para quem é de abraço.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.