Te conheço da vida toda

Eloisa Capraro
a coluna
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3 min readJan 20, 2023

Sabe qual é o meu medo? De escrever repetidas coisas aqui na Coluna. Hahaha. Essa semana eu soube que já escrevi sobre o Big Brother Brasil e juro que eu realmente não lembro. Imagino que devo ter escrito que eu adoro o programa e fico acompanhando pelo Instagram todos os babados, porque isso é verdade e eu sempre falo a verdade aqui.

E o pior é que eu nem posso ler os títulos já escritos porque nenhum texto/crônica (sei lá como chama o que eu escrevo, muito embora eu goste de crônica. Pronto, está resolvido: vou chamar de crônica) é sobre um único assunto.

São fragmentos aleatórios. Liga: fala da galinha da Vivi (lá ele); desliga: fala do livro sobre como emagrecer; liga: fala das plantas; desliga: fala do boizinho que nasceu. E é assim que eu vivo a minha vida, sempre me sentindo uma pessoa meio aleatória.

Certo. Eu comecei dizendo isso porque queria escrever mais ou menos assim: tem gente que nós conhecemos no coração. Acho até que vou adotar isso para falar às pessoas:

— Eu te conheço no meu coração, a vida toda.

Alguns chamam de “santo bateu”, serve também. O negócio é que tem gente que inspira a confiança de uma vida e que parece que tu conhece desde que nasceu, mas na verdade conheceu ontem. E também tem aquelas pessoas que às vezes tu não vai lá essas coisas com a cara, mas um dia troca duas palavras e descobre que ela é daora.

Uma pessoa que talvez possas ter conhecido em um episódio logo após ela ter tido um dia ruim. E aí a gente julga, pronto. E os outros também devem fazer isso conosco.

Não é raro me perguntarem se eu estou estressada (ou afirmarem mesmo) e, na verdade, muito embora a minha cara deva ser de cão chupando manga, por dentro eu estou atravessando o guarda-roupas para Nárnia ou lembrando que o Capitão não sabe que é cachorro de doninha pobre para ter tanta alergia.

O negócio é que existe muita gente legal nesse mundão de Deus. Sim, é a maioria. O que ocorre é que, até que se prove o contrário, são todos humanos, ou seja, tudo da laia que vai fazer muita cagada na vida.

Claro que não são raras as histórias de alguém que acreditou no outro rapidão e, na mesma velocidade, lascou-se, filho. Acontece. Mas não é a regra, não. Mesmo porque, se nesses tempos de fake news para cá e para lá, alguém ainda não tenha percebido que as palavras tiradas do contexto mudam todo o significado, filho, tenho algo a lhe dizer:

— Você está vivendo só para comer merenda.

É isso aí. Ah, Lima Barreto usa uma palavra em “Triste fim de Policarpo Quaresma” que é beeeeem mais elegante: tartufo. Fui pesquisar e é algo no sentido de falso, hipócrita e tal. Isso quer dizer que, ao invés de fake news, poderíamos dizer “nota tartufa”. Para, não vai dizer que soa mais bonito? É tão bonito quanto os olhos de ressaca da Capitu.

Há pessoas na vida da gente que são sossego e outras desassossego.

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Eloisa Capraro
a coluna

Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.