Você sabe com quem está falando?

Eloisa Capraro
a coluna
Published in
3 min readMar 25, 2022

Em todas as vezes da minha vida que eu ouvir essa frase, a minha vontade de resposta sempre, sempre e sempre foi e será: “Sei, com um banana, e que nem está de pijama.” Como sou muito educadinha (vulgo pamonha), fico só na vontade e naquele meio-sorriso amarelo sem graça.

Mas o olhar não engana, é aquele que fuzila. Quem já me conhece um pouquinho percebe que a cara é de fofa, mas o olhar é de dissimulada. Hahaha. Isso me preocupa um pouco. Às vezes sou tão impaciente que a consciência pesa. Será que eu sou uma pessoa feia por dentro, do tipo que se virar do avesso ninguém olha?

As pessoas falam tanto de energia. Não raro me pego pensando se a minha é boa ou ruim. Como já ouvi muitas histórias “dos antigos”, sempre fico com medo de ser a pessoa que elogia a planta e ela morre. Oxe. Quando é mais forte que eu, e sai um: “Ahhhh, que planta linda, qual é?” Assim que tiver oportunidade, volto ao lugar depois e procuro para ver se a verdinha está saudável.

Zamioculca (imagem via Shuttershock)

A Vivi tem uma Zamioculca maravilhosa, toda vez que a vejo sorrio por dentro. Mas nunca falo nada. Vai que eu mato a bichinha, como fiz com a minha. Deus o livre. É verdade. Procura aí no Google agora sobre as plantas mais fáceis para se cuidar. Sem sombra de dúvida aparecerá a Zamioculca. Diz que pode ficar 15 dias sem água e viver praticamente sem luz. Pois eu matei a(s) minha(s). Sim, confesso, eram duas.

Mas voltando. Muito embora eu tenha manias esquisitas, não gosto que me olhem de cima. Não me interessa quem és, quem é teu pai, quem é teu avô, muito menos o que tens na tua conta bancária (mesmo porque isso não muda em nada a minha vida).

Se gosto, gosto. O contrário também vale. Só não pode falar mal de cachorro. Aí não dá. Não precisa dizer que ama, mas também não pode dizer que não gosta. Para falar a verdade, nem consigo acreditar que alguém não goste de cachorro.

O meu pai diz que não gosta. Mas é mentira. Não raro escuto ele conversando com o Capitão (como se falasse com uma criança). Inclusive, ao comentar sobre um dia sair de casa, sabe qual foi sua preocupação? Segue:

— Mas peraí, não vais levar o Capitão, né?

— Claro que sim.

— Ah, é! Vai trancar esse coitadinho dentro de um apartamento sozinho o dia inteiro, sem ninguém? Tá doida? Não. Eu cuido.

Não foi diferente com o Gabi, quando se deu por vencido e arranjou a cachorrinha tão pedida pela filhota. E aquele advogado que eu acho com cara de bravo e descobri que se derrete por cachorro e gato? Eles conquistam mesmo. A única explicação é que esses bichos devem ser uns dissimulados.

Volta. Só não pode dizer que não gosta de cachorro. De resto, pode. Até se falar mal da Maria Capitolina eu tolero. Também aturo biscoito. Mas a regra é clara: tem que chorar quando morre cachorro no filme.

Quem manda um “você sabe com quem está falando?” merece nem perda de tempo. Opa, hora boa para puxar de volta aquela “súmula” da Wanda que eu aprendi e tanto gosto: a previsão do tempo é que ele corre.

Oxe, então não dá para desperdiçar, não. Melhor deixar coisas e pessoas para lá. E não me venha com explicações sobre as relações líquidas, Bauman, que hoje eu tô puro sarcasmo. Amanhã voltamos à programação normal. Ou não.

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Eloisa Capraro
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Há algum tempo tentando não ser uma sem-noção.