A Realidade é Real?
Questões profundas, uma música pungente e um poema existencial
O que ando ouvindo
Robert Plant é a eterna voz do Led Zeppelin. Em 2011, foi eleito pelos leitores da revista Rolling Stone o maior vocalista de todos os tempos.
Conheci faz pouco tempo a versão dele para “Darkness, Darkness”, uma música pungente lançada originalmente em 1969.
Não fazia a menor ideia da história sombria por trás da música.
Se liga aqui.
De acordo com o site Songfacts, Jesse Colin Young, vocalista da banda Youngbloods, escreveu essa música depois de uma bad trip de ácido. A experiência de terror o conectou à realidade dos amigos que estavam combatendo na Guerra do Vietnã.
Um dos meus amigos tinha acabado de morrer naquele ano. Ele estava na Guarda Costeira e seu barco foi bombardeado. Foi meu primeiro conhecido a morrer e isso trouxe a coisa para mais perto de mim. Eu me sentei na cozinha e me transportei até eles porque queria que soubessem: Estou ouvindo, estou com vocês, sinto muita gratidão por não estar aí e lamento que vocês estejam. Estou pensando em vocês e orando para que voltem para casa inteiros. E aí [a música] ‘Darkness’ veio.
Quer ouvir? Só clicar:
Aqui a versão de Robert Plant.
E aqui a versão original, dos Youngbloods.
Darkness, darkness, be my blanket,
cover me with the endless night
Take away the pain of knowing,
fill the emptiness with light
Emptiness with light now.
O que ando pensando
Participo de um grupo de whatsapp com amigos da época da faculdade que gostam de discutir temas profundos.
É interessante, porque cada um dos três tem sua própria visão de mundo. De vez em quando sai treta (forte).
Um deles, embora tenha feito Psicologia com a gente, migrou de área e agora está se doutorando em Relações Exteriores.
Na época da faculdade era adventista e fundamentalista, o que gerava tanto debates acalorados quanto provocações inclementes. Hoje, pasmem, se tornou ateu militante e defende, com unhas e dentes, uma visão científica mais ortodoxa.
O outro é psicanalista atuante e, se não me engano, pós-doc. Também é praticante experiente de Tai Chi e simpatizante da cultura oriental. Conhece bastante sobre a Fenomenologia de Husserl e, especialmente, Merleau-Ponty, mas se declara materialista.
E eu, psicanalista e mestre em Psicologia, tenho porém como referência principal para pensar esses temas a escola budista do Caminho do Meio (Prasangika Madhyamika), que investiga a natureza da mente e da realidade por meio da experiência direta — com o apoio de ideias estranhas à cultura ocidental, como vacuidade, não-dualidade, interdependência, coemergência e a distinção entre realidade provisória e absoluta.
A gente costuma falar de coisas como a relação entre ciência e religião, a diferença entre mente e cérebro e os limites do que é possível saber.
Perguntas que estão sempre rondando nossos papos:
- Este mundo que captamos por meio de nossos sentidos físicos, composto por formas, cores, sabores, texturas, odores e sons (em um nível), e por seres, objetos e eventos (em outro nível) — esse é o mundo real?
- A gente enxerga esse mundo como ele de fato é ou se trata de uma versão que só tem validade para nós, humanos?
- Existe algo além do que podemos ver, ouvir, sentir, cheirar, ouvir — e pensar — ou é só isso mesmo?
Se você se vira em inglês, aqui um vídeo do YouTube curto, mas que vai no ponto:
Is Reality Real? These neuroscientists don’t think so…
Como ando procrastinando
Já estava há uns dias patinando. Comecei a escrever um texto que não vingou.
O que acabou saindo foi um poeminha existencial. Quase deletei, mas, enfim, aí está:
Logo, Existo.
Às vezes me pego pensando…
Mentira: direto me pego pensando.
Às vezes me pego pensando
que talvez eu pense demais.
Por hoje é só.
Se cuide e até a próxima.
André Camargo é autor do livro “O Poodle de Schopenhauer” e do artigo mais lido do Linkedin em 2017.
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