O que Aprendi com Krishnamurti Sobre Autoconhecimento e Educação

André Camargo
Revista Tudo é Sagrado
3 min readSep 2, 2021

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imagem: Randy Jacob / Unsplash

“O homem ignorante não é o sem instrução, mas aquele que não conhece a si mesmo; e insensato é o homem intelectualmente culto ao crer que os livros, o saber e a autoridade lhe podem dar a compreensão. A compreensão só pode vir com o autoconhecimento, que é o conhecimento da totalidade do nosso processo psicológico. Assim, a educação, no sentido genuíno, é a compreensão de si mesmo, pelo indivíduo, porque é dentro de cada um de nós que se concentra a totalidade da existência.”

Jiddu Krishnamurti

Você acredita que uma pessoa pode ser inculta, mas sábia? Ou, ao contrário, muito culta — talvez inteligente — mas ignorante?

Nosso modelo de educação pressupõe que o mais importante é ajudar os alunos a acumular informação.

O ano da independência do Brasil. A fórmula de Bhaskara. O quadrado da hipotenusa. A capital do Marrocos. Os elementos da tabela periódica. As células eucariontes e o papel das mitocôndrias na biosfera.

Eu mesmo não me lembro de praticamente nada disso aí. Por que me lembraria?

Como diz Krishnamurti, “Fizemos de exames e diplomas critério de inteligência e desenvolvemos espíritos muito sagazes — que evitam os problemas humanos vitais.”

Nesta fase da vida, em meio à pandemia, inclusive, vejo-me cada vez mais atraído pelos problemas humanos vitais.

A educação atual é um sistema concebido por intelectuais para formar intelectuais.

O intelecto é a operação mental desconectada do afeto. O intelecto é articulado, cortante, mas lhe falta carne e pulsação.

Na minha opinião, o pensamento do sábio indiano vai direto ao ponto.

Ele destaca a diferença entre intelecto, erudição e sabedoria.

A erudição prospera em um emaranhado de fatos, teorias e explicações. Com mais frequência do que esperaríamos, a pessoa é muito culta, muito erudita, mas comete as mesmas cagadas que o resto de nós. Talvez às vezes com mais arrogância.

Sem autoconhecimento e, portanto, sabedoria, ainda que sejamos muito inteligentes e muito cultos, nossos pensamentos e sentimentos serão estereotipados — e nossas vidas, superficiais e vazias.

É seguro afirmar, inclusive, que, por debaixo das fachadas sorridentes, o sentimento de vazio é uma marca dos nossos tempos.

Os livros, o saber e a autoridade, quando desconectados da compreensão daquilo que É, são vistos, na perspectiva de Krishnamurti, como fugas de si mesmo — desse território íntimo onde ao olhar lúcido se descortina a totalidade da existência.

“Caso a vida tenha um significado mais alto e mais amplo”, diz ele, “que valor tem nossa educação se nunca descobrimos esse significado?”.

Ele propõe uma educação com foco no cultivo da sabedoria, que em certo momento descreve como “a integração da mente e do coração no agir.”

Para que serve, no fundo, a Educação? Que significado maior é esse? Qual é o papel de cada um de nós neste mundo? Como se cultiva a sabedoria?

Penso em todas as questões essenciais que, talvez instruídos demais, desistimos de formular.

André Camargo é autor do livro “O Poodle de Schopenhauer” e do artigo mais lido do Linkedin em 2017.

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