O papel da fotografia no branding

A imagem como aliada na construção de marca

Carol Lancelloti
4 min readNov 19, 2016
Capas da revista the gentlewoman

Todo mundo entende que o conteúdo visual é primordial para as marcas, mas poucos buscam entender a fundo os porquês, ou como usar de forma consciente (e, portanto, estratégica) esse artifício. Pra começar, nosso cérebro processa imagens muito mais rápido do que texto, então, faz sentido considerar a fotografia como uma das ferramentas mais poderosas quando falamos de branding. Mas o assunto é muito mais rico e não para por aí.

Porque será que, mesmo após o significativo crescimento do vídeo, a fotografia ainda é um dos principais meios de comunicar quem sua marca é? Bem, seja você profissional, ou apenas apaixonado por essa arte, com certeza entende a beleza e a peculiaridade desse ofício, assim como a importância de sua função. Como fotógrafa apaixonada, posso dizer que não vejo o vídeo substituindo a fotografia, por tudo o que ela oferece: uma pausa no tempo, a emoção estática, a essência capturada e eternizada em um clique. Enquanto houver sensibilidade e poesia, haverá fotografia. Prova disso é que, apesar do sucesso de redes multimídia que têm o vídeo curto como carro-chefe, como o Snapchat, o Instagram continua sendo muito utilizado por seus usuários, principalmente após a implementação do Stories. A união desses dois mundos fez a rede resistir fortemente em seu posto.

De acordo com essa pesquisa publicada pela youPIX, o Instagram ainda é a rede com a maior presença de influenciadores digitais (31.9%). Além disso, é impossível negar sua força nos mercados de moda, beleza e decoração. Isso porque imagem estática ainda vende, e muito – principalmente quando é envolvente e pensada com propósito.

Lembre-se que não basta apenas ter qualidade: uma foto precisa contar uma história. Inclusive, há um tempo atrás, quando o Instagram incorporou em suas opções de anúncio o modo carrossel, sua principal justificativa foi a necessidade de uma ferramenta que ajudasse no storytelling das marcas que faziam publicações pagas.

A identidade inconfundível das fotos da Anthropologie se mantém até mesmo nas coleções festivas.

Como contar a história da sua marca

Consistência é fundamental. Há alguns anos atrás, fotos levemente desbotadas, com cara vintage e provavelmente tratadas no app VSCO Cam invadiram as redes, até se tornarem mainstream e chegarem aos anúncios e posts de marcas que não exatamente carregavam aquele estilo em sua energia. Foi confuso para algumas marcas brasileiras (principalmente as com forte identidade praiana) toda aquela preferência pela vibe folk das montanhas, da textura da madeira escura, dos pinheiros. O resultado foi uma leve esquizofrenia na comunicação de quem tentou seguir o modismo. Hoje, podemos ver o mesmo acontecendo com o movimento seapunk e suas imagens "iridescentes", fortemente influenciadas pela década de 90.

Campanha da SRI Clothing, influenciada pelo movimento seapunk e a estética 90’s

Muitas marcas querem fazer parte desse universo, mesmo sem pertencer a ele de fato. As que trabalham com essa estética de forma bem-sucedida são aquelas que identificaram dentro de sua personalidade a capacidade de trazer tais referências pra perto, como foi o caso da SRI Clothing. Porque é assim que deve ser na hora de representar sua marca através da fotografia: ou ela fala a verdade e trabalha dentro de seu universo próprio, ou seu público não vai reconhece-la em campanhas ou editoriais, por mais bem produzidos que sejam.

Moro no Brasil: foto de produto da Colab55 que traduz a brasilidade em texturas, elementos e cores.

Sua marca não precisa seguir a tendência visual mais forte do mercado para se comunicar. Destoar de sua energia resulta na necessidade de justificativas para convencer seu cliente de algo que sua marca não é. Ou seja, um processo tão trabalhoso e cabuloso que, no fim, o desgaste não valerá a pena.

O lookbook mais recente da americana Free People mantém a estética boho com perfume western da marca.

Há diversos elementos e detalhes na construção de uma foto que podem contribuir pra que uma história seja bem contada. E o mais gostoso dentro de todo esse processo é, justamente, unir a equipe criativa em imersão pra "escrever" mais esse capítulo, com muitas referências visuais e brainstorm, é claro! Os mínimos detalhes para se criar uma campanha inesquecível não serão mistério algum, quando uma marca sabe quem ela é.

As fotos da REFORMATION são sempre descomplicadas: sem exagero nos filtros, com modelos exalando confiança e conforto, e colocando o look como a estrela principal.

Pode ser que sua marca perceba que precisa da visão daquela fotógrafa nova, defensora do analógico, com fotos bem granuladas, cruas, poéticas. Ou, pode ser que aquele fotógrafo parceiro de longa data que traduz a imagem de sua marca como ninguém seja o profissional ideal pra continuar traçando esse caminho com você. Isso vale também para os demais profissionais envolvidos. Depois de encontrar-se como marca, acredite, fica muito mais fácil escolher stylist, profissional de beleza, modelos, produtor e até mesmo locação.

Imagem (realmente) importa. Não é um processo simples de produção, mas pode ser inspirador, gratificante e muito eficaz. E para obter esse resultado, é só não ignorar alguns pilares fundamentais durante a jornada de construção de marca: paixão, identidade, criatividade e propósito.

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