A cocaína salvou o mundo

Leandro Demori
A Grande Guerra
Published in
3 min readFeb 9, 2015
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Um avião pousa em Cidade del Carmen. Os soldados mexicanos que aguardam a aeronave a encontram estufada de 128 malas pretas cheias de cocaína. A quantidade hipnotizou os agentes, mas droga não seria a principal suspeita contra os carteis mexicanos naquele dia.

Martin Woods e o DC-9.
O investigador e um avião.

A mula de aço que transportava a cocaína havia sido comprada com dinheiro sujo ─ indiretamente, através de cheques de viagem emitidos pelo Wachovia Bank, fundado em 1879 e, até ser vendido em 2008, o 4º maior colosso financeiro dos Estados Unidos.

Martin Woods é um experiente investigador contratado pelo Wachovia para revirar o banco internamente. Ele busca o histórico do avião e fica estarrecido com o que encontra: o Wachovia ─ e, mais tarde se saberia, quase todo o sistema financeiro mundial ─ recebia com grado o dinheiro de traficantes de todo o planeta. A guerra de gangues que matava milhares de pessoas na América Latina era uma boia de salvação estimada e desejada.

Nos anos seguintes, Martin Woods caiu em desgraça, desacreditado pelo próprio banco que o contratara para investigar crimes financeiros e transações suspeitas. O Wachovia precisava daquele dinheiro, assim como outras instituições financeiras. Woods comprovou que as lavanderias do mundo não estavam mais concentradas nas Ilhas Cayman ou em repúblicas da América Central. O dinheiro sujo de sangue estava sendo branqueado em Wall Street e na City de Londres. Os banqueiros encontrariam liquidez nas mãos dos barões do crime. Woods seria marginalizado por sua competência.

O dinheiro sujo continua voando para as as grandes instituições bancárias. Sob manobras fiscais e legais, traficantes de armas, drogas e diamantes, financiadores de guerras civis e políticos corruptos continuam a ter livre acesso às caixas-fortes do mundo.

É o que mostra uma investigação do International Consortium of Investigative Journalist. A rede, formada por quase 200 jornalistas de 65 países, teve acesso a documentos do banco HSBC. Você pode ler um resumo das conclusões aqui (em português). Ou ler a reportagem completa, com acesso a alguns dados, aqui (inglês).

A única biografia de um brasileiro explorada até agora é a do banqueiro Edmond J. Safra.

De acordo com o relatório, existem 6.606 contas de 8.667 clientes “ligados ao Brasil”, 55% deles com passaporte brasileiro.

O ICIJ deixa claro que ter dinheiro na Suíça ou em qualquer outro paraíso fiscal não é crime. Mas questões morais podem ser levantadas.

É justo que o jogador de futebol Diego Fórlan, o piloto de Formula 1 Fernando Alonso, o músico Phil Collins, o estilista Valentino, os reis da Jordânia e do Marrocos e todos os outros nomes citados na reportagem tenham contas nesses lugares para, basicamente, fugir do fisco? É justo que eu e você sustentemos, por exemplo, a Saúde e a Educação de nossos países enquanto eles evadem divisas e se fogem dessa responsabilidade?

Depois de derrubar os índices de criminalidade e aumentar o turismo, a maconha legalizada do Colorado deverá obrigar o governo a distribuir entre a população os excessos de arrecadação de impostos. Leia.

Cena do filme Cocaine Cowboys.

Vejam Cocaine Cowboys. Tem no Netflix.

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