Grávida, gorda e gente.

Rachel Patrício
A Grande Mãe
Published in
2 min readJun 15, 2016

Eu tinha planos de falar sobre gravidez e gordofobia durante essa gestação, mas em algum momento essa vontade sumiu.

Parte deve ter sido autopreservação, parte foi aquele cansaço que as vezes chega.

Estou com 31 semanas, em breve o bebê chega. Durante esse tempo, acompanhei também a gestação da Tess Holiday, modelo gorda que atua no mercado plus size americano.

Dia 06/06 nasceu o Bowie, filho da Tess. E olha, eu me emocionei. Eu li os ataques que ela sofreu em cada foto que ela postava, pois é impossível para algumas pessoas aceitar que o corpo gordo é capaz de gerar uma vida. Chamam de apologia à obesidade. Vejam bem: eu e Tess, mulheres gordas, gerando vidas, somos vistas como um grande mal dentro da nossa sociedade.

Essas 31 semanas foram tranquilas. O único problema que tive não tem absolutamente nada a ver com o meu tamanho. Minha pressão segue boa, meu ganho de peso até agora foram 3,5kgs. Não apresentei diabetes gestacional e recebi um elogio muito engraçado numa das ultrassonografias: minha médica disse que minha circulação é muito boa (ela estava checando as veias e artérias uterinas).

Minha gestação é considerada de alto risco, ainda que meu obstetra me olhe toda consulta e diga “vc está ótima, não tenho nada a te dizer”. É a tal patologização do corpo gordo. Esse é o meu único “sintoma”.

E não adianta: por mais que eu seja muito lúcida em relação ao meu corpo e à tudo isso que eu sempre trago por aqui ou no Twitter, ver a Tess parir bem é uma vitória minha também. É um lembrete que tudo vai ficar bem, ainda que diariamente tentem me dizer o contrário.

Gravidez não é doença, eu ouvi desde pequena.

Ser gorda também não.

--

--