Caindo em roubadas em Bali

Vinny Campos
A Path to Somewhere
8 min readDec 21, 2016

Desde a adolescência a Indonésia fez parte da minha imaginação. Talvez nunca tenha sido a ilha de Bali, mas por eu ter crescido em Santos, cidade litorânea de São Paulo, com amigos surfistas — e até eu mesmo ter dado minhas dropadas por lá — por um período todas as marcas e o universo do surf fizeram parte da minha vida.

Minha primeira lembrança da Indonésia é de um surfista do filme: “Surf Adventure”, surfando com golfinhos, ao som da música “Tudo Azul — Cajamanga”. Então já dá para imaginar a minha expectativa ao ir para a Indonésia, certo?

Enfim chegamos em Bali! Fomos buscar as malas, e eram só pranchas!

Em um primeiro momento, ao sair do aeroporto, não fomos recebidos por “colares de flores havaianas” como nos filmes, mas sim por uma “onda” de taxistas, e mal sabíamos que isso iria se repetir ainda por 1 mês. Frases como “Táxi, Táxi!“, “Where are you from?” e “Hey Boss!”, se tornariam rotina.

Mas depois de negociar e escolher nosso taxista, partimos para nossa primeira parada em Bali, a praia de Legian.

Decidimos ficar em Legian pois ainda era próximo de lugares bons para comer e próximo da praia, sem ser tão bagunçada quanto Kuta, ou pelo menos era isso que esperávamos. Ficamos em um hotel simples e em menos de 5 minutos de caminhada já estávamos em frente aos famosos portais balineses. Incríveis! Mas ainda não era a Indonésia que eu esperava.

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Marcas de surf por todo lado, mas e as ondas? E o mar azul e lindo de águas cristalinas? Por enquanto, ainda estava parecendo o Guarujá em dias bons, apesar de ter algum movimento de surfistas no mar.

Caminhar pela praia, sentindo a areia nos pés e a água do mar, para nós foi ótimo e relaxante. Mas Bali se tornou uma ilha turística até demais, e isso me incomoda muito. Viajar para um local onde tudo parece ter sido feito para me agradar, ou para diminuir choques culturais, nem sempre é tão legal assim.

Não tive dificuldade com o idioma, todos falavam inglês, não tive dificuldade em restaurantes, nada! Parece ótimo, porém, quando o turismo é muito enraizado, as escolhas das pessoas locais acabam sendo mecânicas. Somos só mais um casal querendo ver praias bonitas… e foi assim que conhecemos o Mr. Din!

Mr. Din foi um guia local, que contratamos para um dia inteiro de passeio, algo bem comum de se fazer em Bali, já que o serviço é relativamente barato e se deslocar pela ilha não é nada fácil se você não alugar uma moto ou contratar um motorista. Lá não existe transporte público. Falamos que gostaríamos de ir para as praias mais bonitas da região e depois ver o pôr-do-sol em Uluwatu. Tudo certo, chegamos no horário combinado, e lá estava ele, com um sorriso de orelha a orelha.

Vale lembrar que os balineses são um povo com um sorriso cativante, levam tudo no esquema “easy going”, curtindo a vida. Um pouco disso se deve a religião local, que mostra o quanto a aceitação e a felicidade são importantes, e talvez, essa seja uma das melhores lições a aprender com eles.

Enfim, nosso passeio começou e confiamos que o Mr. Din nos levaria para as tais praias paradisíacas dos surfistas, e assim aceitamos quando ele sugeriu uma praia no meio do caminho onde poderíamos ver os barcos e pessoas praticando esportes. Foi aí que veio o choque de realidade… Caímos na pegadinha para turista!

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Fomos muito bem recebidos por duas senhoras balinesas, em uma praia que não tinha nada de paradisíaca, o lugar era um point turístico, em Nusa Dua, com um cardápio de opções de esportes aquáticos e com muitos descontos que faziam parecer que o negócio valia a pena. Com tanta simpatia do Mr. Din e das vendedoras da Wibisana Marine Adventures, acabamos optando por fazer um mergulho e um parasailing e só nos demos conta da roubada que nos metemos assim que pagamos e passamos a ser tratados como uma linha de produção. A experiência foi péssima, o parasailing não durou nem o tempo suficiente para curtir a paisagem, o mergulho foi a maior fraude, a falta de visibilidade da água no péssimo ponto escolhido por eles foi a justificativa para encerrar a atividade em pouco tempo.

Fomos “enganados” e o tal passeio só serviu para nos atrasar ao invés de aproveitarmos as praias bonitas com calma, como gostamos de fazer. Paciência, caímos na pegadinha turística.

O grande erro foi deixar a escolha das praias “mais bonitas” para o tal guia. Eles podem até sugerir, e as vezes acertar, mas no fim, irão te levar no que é mais cômodo para eles, ou o que já faz parte de um roteiro pré-definido, esquema linha de produção. Nesse caso, ele ainda ganhava uma boa comissão para cada turista que fechasse alguma atividade com aquela empresa.

No fim, mesmo depois de sermos “enganados”, ainda dei um abraço na vendedora, pra você ver o quanto ela foi divertida. E afinal, ainda tínhamos uma tarde inteira pela frente, isso não podia estragar nosso dia!

Após a decepção e algum tempo no trânsito, começamos o passeio que gostaríamos e a primeira parada foi em Dreamland Beach. E que praia!

Finalmente vi o tal do mar azul, ondas bonitas, mas ainda bem discretas e um paredão de pedra que os turistas que não queriam pagar para ficar nos guarda-sóis usavam para se proteger e descansar.

E próximo da praia, um restaurante, ideal para tomar uma Bintang, a cerveja local, enquanto olha a paisagem.

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Uma praia pequena e bonita, mas com seus requintes de perigo. O terreno no mar é bem irregular, com buracos e corais, e uma forte correnteza. Sem contar que ali as ondas quebram bem próximo da praia e uma escorregada pode não acabar muito bem.

Acabamos não conseguindo curtir muito bem o mar e como tínhamos horário, a viagem seguiu.

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Tchau Dreamland Beach!

Seguimos para a famosa praia de Padang Padang, também conhecida por ser uma das praias frequentadas pelos surfistas, e por muitos brasileiros. Ela é meio escondida e a entrada tem sua beleza, descemos algumas escadas até chegar na praia, que por sinal é paga, assim como a Dreamland Beach, e estava bem cheia.

O mar é calmo, quase formando piscinas naturais. As ondas ficam mais distantes e por não ter uma correnteza forte, acaba sendo ótima para banhos de mar.

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Como a praia não era tão incrível assim, estava cheia e nós não estávamos com tempo sobrando, ficamos um pouco no mar, fizemos algumas fotos e decidimos seguir para a próxima, após tomar uma água de coco.

Depois de uma certa decepção com as praias que o Mr. Din nos levou, decidimos dar uma pesquisada melhor no celular, já que tínhamos visto outras praias bem mais bonitas e queríamos conhecer. Encontramos uma na região de Uluwatu e mostramos para ele, que não ficou muito animado em nos levar até lá, e ainda disse que teríamos apenas 30 minutos, caso quiséssemos chegar a tempo para o pôr-do-sol no Templo de Uluwatu, um dos mais famosos e bonitos de Bali.

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Enfim, chegamos na praia que nós queríamos, escondida em uma pequena vila. Com certeza teríamos passado o dia todo ali, se tivéssemos tempo.

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Nós descemos por uma escada e depois por pedras, bem devagar pois não era um caminho muito fácil. Atrás das grandes pedras, lá estava ela, uma praia pequena, mas com poucas pessoas, ondas ao fundo, um pedaço para banho de mar tranquilo e a medida certa de sol.

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Exploramos o local meio rapidamente e depois voltamos para nosso motorista. Ainda falei pra ele que esse era o tipo de praia que nós queríamos. Ele riu e disse que só achamos essa praia bonita porque a visitamos, se não tivéssemos ido até lá, teríamos achado as outras primeiras bonitas e iríamos embora feliz, afinal todas as praias de Bali são bonitas.

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Para finalizar o dia, chegamos com pouco tempo no Templo de Uluwatu e exaustos, tivemos que fazer uma visita rápida e reservar um lugar para ver o tradicional show de Kecak.

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Nessa loucura toda, não tivemos tempo de almoçar, estávamos cansados e querendo chegar logo no hotel, mas claro, como nada é tão simples assim em Bali, percorrer os 25km que separam o Templo de Uluwatu da praia de Legian, levou mais ou menos 2h.

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Fica a dica pra não cair nas ciladas, pesquise bem o que deseja conhecer, escolha poucos pontos para não passar muito tempo no trânsito e chegue com seu roteiro pronto.

Pode ter sido azar nosso, mas algo parecido aconteceu novamente com a gente em Ubud, e nem era o Mr. Din.

Então, para não acontecer com você, vale a pena se prevenir.

Originally published at A Path to Somewhere.

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