Por que ‘Get Out’ é um filme de terror para negros
Filme recria sensação de não-pertencimento a que afrodescendentes são expostos diariamente
Você, mulher negra ou homem negro, já entrou em um espaço essencialmente branco pela primeira vez sem que alguém avisasse os presentes antecipadamente que você é preto(a)? Lembra-se da sensação? É provável que sim. O filme canadense “Get Out”, obra de estréia, enquanto diretor, do ator estadunidense Jordan Peele, é a metáfora perfeita dessa situação. O longa metragem coloca pretos contra a parede neste suspense cujo o terror é reconhecer na ficção suas memórias.
O filme, logo de partida, mostra a que vem apresentando ao telespectador um protagonista afro americano preocupado com o fim de semana na casa dos parentes da namorada, com quem mantém relacionamento há quatro meses e que é branca.
Tudo naquela típica família caucasiana de classe média, inclusive os empregados (negros), parece fora do lugar. Sem atuações forçadas — salvo uma que manterei em segredo — o elenco dá vida à dúvida que impregna a mente do protagonista tanto quanto o faz com quem está assistindo ao filme.
Com alguns sustos e poucos exageros, o filme corre e nós, principalmente a parte de “nós” que é preta, começa a descobrir que o terror não está no filme, mas na sociedade tão real (quanto se é possível dizer, guardadas as proporções) a que somos apresentados.
Aqui, já em primeira pessoa, preciso dizer só percebi o que realmente estava assistindo quando o filme já se aproximava do momento chave, onde todas as revelações nos atropelam, assim como atropelaram Chris.
Este filme, acho que posso dizer isso, não deixará muitas pessoas não negras sem dormir, mas definitivamente deixou a mim, jovem negro, assustado e corroído por memórias.
Get Out é um filme sobre como pessoas brancas são capazes de usar, de todas as maneiras, em todos os níveis e praticamente sem limites, pessoas negras com quem se relacionam.
O filme chega aos cinemas brasileiros em 18 de maio de 2017 com o título “Corra”.
