Carnaval em Caruaru: O melhor do estado - parte 2

Frank Junior
A Ponte
Published in
4 min readFeb 12, 2018

Essa é a continuação direta do texto passado sobre a origem do carnaval de Caruaru, acessível por esse link.

A população lotava as calçadas nos dias de festejo, e os foliões já esgotados ainda tinham energia para aplaudir os desfiles de blocos na última noite da festa. E ainda tinha aqueles que tinham forças para ir nos bailes dos clubes que só terminava amanhecendo o dia da quarta-feira de cinzas, com todo cantando “Está Chegando a Hora”, gravada a primeira vez em 1955, no LP “Os Copacabanas”, mas ficou muito conhecida com a gravação de Wilson Simonal no ano de 1967:

“Quem parte leva saudades de alguém
Que fica chorando de dor
Por isso eu não quero lembrar
Quando partiu meu grande amor
Quem parte leva saudades de alguém
Que fica chorando de dor
Por isso eu não quero lembrar
Quando partiu meu grande amor

Ai, ai, ai ai, ai ai ai
Está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem
Eu tenho que ir embora

Ai, ai, ai ai, ai ai ai
Está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem
Eu tenho que ir embora”

E esse auge todo do carnaval de Caruaru gerava entre a população a idéia de que Caruaru tinha o melhor carnaval do estado, até render matérias como essa:

“O CARNAVAL DE CARUARU CONSIDERADO O MELHOR DO ESTADO:

Sete carros alegóricos abrilhantaram os festejos de momo - pessoas vindas
do Recife, do Rio e de inúmeras cidades pernambucanas ficaram
deslumbradas com o nosso carnaval externo e interno. Caruaru deve
orgulhar-se em ter oferecido à Pernambuco e ao Brasil, no ano de 1956, o
melhor e mais animado Carnaval já registrado em todo o território
pernambucano…” (VANGUARDA, 19 de fevereiro de 1956)”

Mas esse título de melhor carnaval do estado, durou pouquíssimo tempo, pois foi justamente entre a década de 50 e 60 que o carnaval de Caruaru começou a perder forças, devido a problemas econômicos e do êxodo das pessoas para o litoral e as casas de praia. No ano de 1963 por exemplo, só saiu o bloco do “Motoristas”, não houve a famosa Semana Pré-Carnavalesca. Mas ainda assim, nos anos seguinte surgiram blocos novos de menor destaque como as agremiações: “bloco Sou Eu Teu Amor”, “Cambinda Nova”, “Boi Tira Teima” e “Boi Surubim”. Assim como, alguns clubes sociais de novos indivíduos da elite: “Caroá”, “Colombo”, “Vera Cruz”, “Onze Unidos” e “Clube dos 60”.

Nessa crise econômica, onde a elite da cidade que tradicionalmente custeava a festa, deixou de patrocinar, isso deu lugar a algumas empresas para bancar esses patrocínios como no ano de 1964 por exemplo, A Coca-Cola contribuiu com infra-estruturas instaladas na Rua da Matriz.

Ainda em 1966 a Coca-Cola junto com Jornais Vanguarda e A Defesa, Art-Studio e Rádio Cultura organizaram o concurso “Rainha do Carnaval de Caruaru”, disputado pelas representantes do “Central”, “Vassourinhas” e das escolas de samba “13 de Maio” e “Unidos da Vila”. Em 1967, os patrocínios de empresas continuam, e os concursos também, e um dos destaques desse ano foi uma mistura de carro alegórico com trio elétrico, em forma de navio, patrocinado pela Coca-Cola que desfilou pela Rua da Matriz e Av. Rio Branco.

A cada de que se passava a partir daí, o carnaval caía cada vez mais, o povo ia para as praias no período do carnaval, o carnaval de Caruaru já não despertava os mesmos interesses por parte dos patrocinadores. No começo de 1970, clubes e escolas de samba ameaçavam não se apresentar, poucas agremiações saiam para desfilar nos anos seguintes e o carnaval ia ficando cada vez mais decadente. Até que no ano de 1979 o carnaval foi narrado como um fracasso total.

“CARUARU VIVEU SEU PIOR CARNAVAL DE RUA

Nas ruas foi de uma tristeza geral, com muita gente esperando nas calçadas
pelo que não vinha, pois eram raras as agremiações desfilantes […]Não
desfilaram o “Vassourinhas”, o “Sapateiros” e o “Motoristas”, nem as
escolas “Palmeiras” e “Unidos do Morro do Bom Jesus” […]Na passarela (?)da Rua da Matriz, só dava “boi-tira-teima”, “boi Surubim” e as “bonecas”,
“travestis” esses que compraram a fantasia com o seu próprio dinheiro, com
sacrifícios […] Carnaval de Caruaru foi sem crime, sem frevo e sem
organização. (VANGUARDA, 04 de março de 1979)”

Daí por diante foi de mal a pior, no ano de 1983 foi considerado o mais fraco de todos os tempos, mas ainda foram feitos alguns desfiles de carnaval até meados de 1990. Entre 1996 e 2000 praticamente não houve carnaval. Ainda houve algumas tentativas de revitalização como no ano de 2001 que teve o “Carnaval da La Ursa”, mas só durou 1 ano, e alguns outros blocos ainda saíram mesmo sem condições financeiras como o “Vem Comigo” de Naldinho que era do bar “Mastruz com Leite”, mas ele só conseguiu isso até o ano de 2006.

Do carnaval antigo de Caruaru ficou só a história e a memória de que um dia Caruaru entrou pro calendário de um dos melhores carnavais do estado.

Referências:

- SILVA. José Daniel da. Festas Boas de Caruaru.Da Conceicao a Capital do Forró (1950–1985).
- MARQUES. Josabel Barreto. Caruaru, Ontem e Hoje: Da Fazenda a Capital.

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