Porquê a rua Vigário Freire tem esse nome?

Frank Junior
A Ponte
Published in
4 min readSep 25, 2018
Rua Vigário Freire, provavelmente década de 50. Foto tirada do Jardim Siqueira Campos.
Visão contrária da rua Vigário Freire, olhando para a antiga igreja da Matriz (que derrubaram) e pro Jardim Siqueira Campos (ao lado da igreja). Foto dos anos 50

A rua Vigário Freire em Caruaru é uma rua central, fica pertinho da igreja da Matriz, é sem dúvida uma das principais ruas do centro da cidade. Mas quem foi esse vigário?

Antes de mais nada, “vigário” é uma figura religiosa (um sacerdote) que é autorizado a exercer suas funções em outro local basicamente.

Tudo começou quando em 21 de Janeiro de 1856 faleceu o padre Antônio Jorge Guerra, o 1º vigário de Caruaru, dois dias depois, faleceu também seu coadjutor padre Antônio José de Brito, os dois vítimas de cólera, em Caruaru.

Paralelo a isso, o vigário Antônio Freire de Carvalho (1821), que era natural de Assu-RN, tinha se tornado padre no Seminário de Olinda em 1844. Iniciou seu magistério na sua cidade natal, depois terminou em Vila de Mossoró-RN, se tornando o 1º presidente da Câmara de Vereadores de lá.

Vigário Freire

O vigário estava passando as férias em Recife em 1856, e foi se despedir de seu superior Dom João da Purificação Perdigão, Bispo de Olinda, justamente na segunda-feira de carnaval (04 de Fevereiro de 1856, praticamente 1 semana depois do falecimento dos padres em Caruaru).

Foi nessa despedida que o bispo de Olinda perguntou ao vigário Freire se ele estava sabendo o que tinha acontecido em Caruaru, que na época era uma vila ainda, vale lembrar que Caruaru só se tornou cidade 1 ano depois. Ele dizendo que sim, o bispo perguntou se ele tinha interesse em ser transferido pra lá.

O vigário topou, e se mudou pra Caruaru à cavalo, numa viagem que durou 12 dias, chegando em Caruaru em 19 de Fevereiro do mesmo ano. Começou aí um caso de amor e dedicação à Caruaru que durou 52 anos.
No ano seguinte, foi nomeado vigário da cidade, se tornando o 2º vigário de Caruaru, e por causa de sua altura, era chamada de “vigarinho”, e morava numa casa de esquina com a atual rua dos Expedicionários.

Aqui vale um parêntese, nessa época não existia “rua dos Expedicionários”, era uma rua bem mais estreita que estava mais próxima de um beco. E “beco”, no início do século passado, era chamado de “boca”. Logo, Caruaru tinha 3 bocas: A boca de João Piston (atual rua dos Expedicionários), a boca de Major Sinval (local onde ficava a Pharmácia Franceza, onde trabalhava Major Sinval. Hoje se chama de “beco da Estudantil”), e a boca do mercado de Farinha.

João Piston
Vitório — irmão de João Piston

O vigarinho morava nessa esquina com a rua Afonso Pena (atual Vigário Freire) com a boca de João Piston (atual rua dos Expedicionários). O vigarinho de destacou por sua assistência à mendigos, alcoólatras, e os mais necessitados. Exerceu o cargo por 52 anos e tinha grande amor, dedicação à Caruaru, além de muito prestígio por parte da cidade, todo mundo gostava dele. Como se não bastasse, ainda foi fundador e incentivador da banda Nova Euterpe.

O vigarinho faleceu em 28 de Fevereiro de 1908, e a Camâra dos Vereadores achou por bem de nomear a rua que o vigarinho sempre morou, que antes se chamava “rua Afonso Pena”, para “rua Vigário Freire” em sua homenagem. E no ano do centenário de Caruaru (1957), foi construído um busto com uma placa do vigarinho, perto da igreja da Matriz, onde a estátua está olhando de frente para a rua Vigário Freire.

Referências:

  • LIMA, Rosalino da Costa, CAMPELO, Zacarias. Fatos Históricos e Pitorescos de Caruaru
  • Um agradecimento especial a Walmiré Dimeron, Hélio Florêncio e todo o pessoal do grupo “País de Caruaru”, onde eu peguei boa parte dessas fotos e informações.

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