Aposta

Natan Andrade
Revista Simbiose
2 min readDec 19, 2018

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Você foi aposta. O suor, a dúvida, a fé cega. Você foi o rolar de dados mais lento que já vi. O tempo correu meio mundo antes do grande resultado final. A fumaça ajudou na atmosfera pegada, iludindo o besta e o sagaz, rodando lentamente entre as lentes dos meus olhos antes de cair.

E caiu.

A aposta é a irmã bastarda da esperança, aquela que carrega consigo os dados, as estatísticas e as probabilidades, mas que sabe que o acaso é senhor supremo e sempre esmaga a crença que cada um carrega em si, tombando as certezas e as dúvidas. O fino e o tosco, o besta e o sabido. Quando achamos que o peso da escolha não cai sobre nós, lançamos os dados e esperamos cairmos nós sobre nós.

E o rolar dos dados me mostrou o mundo.

Naquele ínfimo segundo entre o ser e o não-ser eu vi toda a beleza da dúvida.

A nossa história poderia ser jogo de cumade, daqueles que se desenrolam sem muito mistério. Poderia ser jogo de cartas marcadas, no qual um truque leva à cartada final. Nossa história poderia ter sido ilusionismo, com dados viciados, baralho roubado e cartas na manga. Mas não foi, nosso jogo foi aposta.

O dado girou e marcou um seis, derrubei os reis e o tabuleiro. Caíram as dúvidas e a certeza pairou.

Caímos nós.

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Natan Andrade
Revista Simbiose

Escrevo histórias de amor, de boteco e mais algumas coisas.