Estrelas
Fantasmas existem e aparecem toda noite.
Toda vez que olho para as estrelas, minha alma aperta-se um pouco dentro do corpo.
Enquanto meu pai dirigia com os olhos firmes pela estrada, ele disse:
“As estrelas, moleque. Olha as estrelas, larga o Game Boy!”
Eu não dava bola, mas um dia tive que olhar.
O céu de maio combinado com a desolação da estrada formavam uma verdadeira pintura no céu. Milhões de estrelas se acumulavam no firmamento. Foi a primeira vez que eu me senti tão pequeno. O cheiro de couro do carro ainda paira nessa memória.
Hoje, daquela época sobraram apenas algumas recordações e umas fotos velhas. Lembro menos da viagem e mais das estrelas, pois toda noite límpida e de céu profundo elas estão ali, não tão bonitas como em 2002, mas tão perenes quanto. Esmagando minha alma. Escancarando minha pequenez, me fazendo amante traído pela distância e pelo tempo.
Olhar para o céu noturno me faz pensar que as estrelas são fotografias. Fotografias brilhantes de coisas que já morreram, mas que levam tempo para nos alcançar, ainda que viagem na velocidade da luz. Fantasmas vivos, tão despertos quanto todos aqueles da foto que hoje seguro em minhas mãos.
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Natan Andrade de Medeiros | Fortemente inspirado num episódio da série “Cosmos” (só não lembro qual).
