Ela

Felipe Martins
Revista Simbiose
Published in
2 min readMay 20, 2016

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Depois de muito tempo longe, a saudade sempre bate a porta.

O dia a dia te distrai, te ocupa, te engole. Mas a noite sempre cai e as dores chegam. As lembranças voltam e assombram até mesmo os pensamentos mais lúcidos. Aquele chá de camomila não me engana mais.

Os amigos já não importam. As conversas ficam vazias, porque lá dentro o que me martela é o seu nome, seu cheiro, seu gosto. O toque macio que me dava, me seca a garganta e, nessa hora, já é tarde, outra noite chegou e eu continuo sozinho. Eu tento um suco, durmo.

Vejo nossas fotos juntos, nossos fins de semana, nossas viagens. Éramos felizes e não tínhamos a menor noção. Durante anos, soubemos dialogar, mesmo em nossas piores crises. Eu não sei onde foi que nos perdemos.

Eu tento mas não consigo. Tento lembrar onde foi que tudo desmoronou, onde foi que nós paramos de dar certo, onde foi que você já não me queria bem. Sei que foram inúmeras brigas, mas não consigo me lembrar de nenhuma sequer. Você me faz muita falta, como faz.

Nos separamos tarde demais para ter volta. Já tínhamos nos afundado em nós mesmos, em nossos problemas. Não sei você, mas nesse momento eu quase não tinha mais amigos. Minha própria família que nos tinha apresentado, já não suportava mais nos ver juntos. Você me fez uma pessoa pior, instável, impaciente e agressivo. Inconscientemente eu descontava o seu mal nas únicas coisas que me faziam bem. Me arrependo.

Por eles e por mim eu tive que tomar a decisão de terminar tudo entre a gente. Eu sabia que me arrependeria, que você não sairia da minha cabeça e que a dor iria chegar rápido. Foi instantânea. Durante dias eu chorei, senti meu coração apertado e seu gosto permanecia em minha boca.

Você sabia que era o melhor pra gente, mesmo assim você chorou e queria me convencer de que tínhamos saída, que podíamos continuar juntos e que tudo seria calmaria novamente. Era você mentindo pra mim mais uma vez. Tive que ser forte, você me entende. Ou não.

Eu só queria te contar o que sinto hoje. Preciso de você, e mesmo sabendo que não temos condições juntos, eu te quero como jamais quis. Não consigo mais me enganar, eu preciso de você. Não consigo suportar essa distância. Eu preciso sentir seu cheiro, seu gosto, seu beijo.

Hoje a saudade bateu a porta, era o entregador trazendo você. Maravilhosa como sempre, cristalina e volátil. Sei que não daremos certo mais uma vez, mas aquele chá já não me enganava mais. Minha garganta ardeu no começo, do resto eu não me lembro.

Ressaca.

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