Nem sempre dá pra entender

NSDPE — 8. O mundo borrado

Fabio Penna
Revista Simbiose
Published in
3 min readDec 9, 2016

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“O mundo borrado visto de um carrossel entrou nos eixos; o carrossel de repente parou.” — F. Scott Fitzgerald, Pileques

Os três acordaram com um barulho bem baixo, mas ensurdecedor. Era um distante som grave bem marcado como se fosse um bate-estacas. De fato era, só que sua versão musical.

Watt só explicou aos amigos que teve revelações durante o encontro com sua amiga. Revelações que o deixaram confuso no começo, mas que agora fazia todo sentido, porque ele se sentia mais livre.

- Vamos à festa! — convidou Watt

- Que festa? — perguntou Camperine

- Bom, vão celebrar o fim de uma etapa do trabalho. Ela me explicou o que eles fazem, mas eu não entendi direito. Na verdade, ela também não sabe, faz só a parte dela que é contar barris.

- E ela te contou tudo isso como, se eles não falam? — quis saber Ferrus

- Cara, isso é muito diferente. Eles se comunicam com o pensamento. Ela me deu uma bebida, espetou um treco em mim e de repente a gente se entendia. É uma linguagem sem palavras, só sentimentos universais, saca?

- Puta merda, é muita maconha tudo isso, Watt! Como você consegue fumar numa situação dessas? — reclamou Ferrus

- Cara, juro. Não fumei nada, os caras são desse jeito. Vamos lá na festa que você vai ver.

A cena lembrava uma rave. Tudo colorido, muitas luzes e uma música que mesclava o rigor de um batimento acelerado com a opacidade de sons randômicos. Isso se traduzia no corpo de algumas pessoas ali, cada uma à sua maneira, mesmo que umas chamassem mais atenção que outras.

A amiga de Watt foi logo por ele localizada. Na verdade, ele nem precisou procurar, já sabia onde ela estava. Só não sabia que ao seu lado estaria uma figura tão singular. A música o fazia dançar de uma maneira bem intrigante. Era difícil distinguir se ele tentava seguir um ritmo ou simplesmente testar seus limites. O rapaz suava. Se debatia com todos os membros numa sincronia que ele inventava a cada segundo.

Camperine viu aquilo e não se conteve. Começou tentar imitar, mesmo que com o engraçado descontrole que ele tinha de seus movimentos. Mesmo mais lento, ele perseguia seu próprio ritmo e entendeu que o importante naquele jogo era inventar.

Uma roda formou-se para assistir à performance dos dois. Sua indescritível forma de se comunicar deixou Ferrus e Watt de queixo caído.

- Acho que o Camperine não se comunica com os pensamentos. — riu Ferrus ao falar para Watt

- Hahaha! É verdade.

A coisa continuou num ritmo cada vez mais frenético. Já não existem mais palavras para descrever que tipo de movimento ele fazia enquanto gritava para os amigos:

- Sorriso! Queixo para cima! Lâmina de seu corpo, palmas para cima, não-verbais abertas e para cima.

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