O diário fantasma de nós dois

Natan Andrade
Revista Simbiose
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2 min readApr 4, 2018

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Nunca fui de diários. Tenho pavor de revisar os rascunhos tortos da minha própria vida, mas o nosso livro de fotos, emojis e diálogos em zigue-zague será sempre minha peça de literatura mais lida. Frases soltas e abreviadas que trazem de volta cada pedacinho desse quase-romance que não vingou. E pensar que tudo começou com um coração.

Revisito nossos bate-papos mais intensos, volto a me apaixonar pelos seus flertes indiscretos, tento descobrir aonde foi que a bateria desse caso arriou. Reviso cada boa noite, até aquela mensagem repleta de carinhas de amor se transformar, lentamente, num boa noite. E só. Nem final feliz, nem triste. Sua falta de respostas deixou um vazio, que ecoa cada mensagem desesperada minha te chamando para um boteco ou coisa assim. Pois cada mensagem sem resposta que se acumula, enterra ainda mais o meu amor-próprio.

Vácuo, o mais doído "não".

Assim, como cidade abandonada, você deixou a nossa conversa, que hoje faz aniversário. Não teve um "eu te odeio", não teve "casa comigo". Você se dissolveu para longe da tela do meu celular, mostrando que a pior assombração não é a que aparece, mas a que some de vez, sem deixar rastros nem porquês. Diário do nosso fracasso, o único livro que li no último ano.

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Natan Andrade
Revista Simbiose

Escrevo histórias de amor, de boteco e mais algumas coisas.