Quando você surge na minha timeline

Natan Andrade
Revista Simbiose
Published in
2 min readMar 27, 2018

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Sou sua audiência principal. Engajado, curto e comento, só não consigo ainda compartilhar. O algoritmo, danado de sabido, me conta tudo sobre você. Ontem foi sushi, hoje reclamou dos estudos. E mesmo quando a linha do tempo não faz você aparecer, vou ao seu encontro e exploro o seu feed, preenchido de corações meus.

Distribuo meus likes fácil demais. Das suas viagens, acompanhei de perto. Sei tudo sobre Guarajuba sem nunca ter estado lá. Fiz um mosaico mental do seu quarto, com cada pedacinho de stories que você gravou. Dos seus mil trezentos e quarenta e oito — quarenta e nove — seguidores, sou o que mais se dedicou.

Mas, pera aí, essa foto eu não vi. Como pode, se eu vivo o dia percorrendo os quilômetros dessa timeline, até o dedo cansar? Que foto é essa?

Dois minutos atrás. Mãos dadas. Legenda: primeiro de muitos meses. Como pode, se há duas semanas eu deixava o celular entre os bancos do seu carro, ficando, finalmente, duas horas sem checar as redes sociais? O mesmo celular que, naquela noite, recebeu sua mensagem fedendo a vinho barato: Tá fazendo o quê?

Aqui, deixo assinado, com firma reconhecida em cartório, duas vias, meu inexorável papel de trouxa. Pois, mesmo com a chancela do seu novo relacionamento, com foto compartilhada no feed e tudo, ainda esbarro no seu dia-a-dia. Passeando nas histórias de todos, a sua me chama atenção, como filme preferido, VHS velho, que nunca jogamos fora, mesmo quando não dá mais para assistir. Não tenho o aparelho, nunca tive. Mas aqui é diferente. Você persiste. Seu sorriso. Você mais uma vez na praia de Guarajuba. Quantas férias você tem por ano?

Stories TV. Passo tudo, seguro você.

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Natan Andrade
Revista Simbiose

Escrevo histórias de amor, de boteco e mais algumas coisas.