Segue o Baile

Natan Andrade
Revista Simbiose
Published in
2 min readMar 6, 2018

--

Queria falar como esses poetas do Instagram. Queria dizer que foi mágico, que o seu olhar queimou o meu e uma ridícula faísca rasgou a linha reta entre nossos olhares. Que o mundo parou por um segundo. Queria dizer que até a música, em compaixão pela minha cara de tonto, resolveu descer alguns tons, enquanto as gotinhas de um copo de vodka e energético flutuavam no ar, colorido de azul e roxo, terminando de compor este cenário juvenil. Já maldisse todos esses clichês adolescentes, mas hoje clamo por cada um deles. Não quero porra de García Marquez nenhum, quero voltar a amar ouvindo Exaltasamba.

No alto da minha pose cult, bradava que o amor é tempo, se constrói na fala, no carinho e no cuidado. Eu acreditava nisso, antes de você. Eu era um metido a besta do caralho, Rimbaud na veia, John Green na cadeia. Eu ainda sou, ou tento ser, mas o que você fez comigo não tem explicação. Se o mundo parar e você dançar no meu olhar, eu sou feliz.

Mas a balada não se abalou nenhum milésimo pelo nosso olhar passageiro. Menos de um segundo em suspensão. Naquele momento, foda-se Dostoiévski, Belchior ou o Expressionismo Alemão. Para o caralho com isso. Eu queria era a fantasia juvenil, que o mundo parasse por um instante enquanto você dança e me olha num olhar que não aconteceu. Pois nem a festa, nem o tempo, e nem a música pararam naqueles 0.32 segundos de olhar. Nem você parou. Música alta, open bar até a meia-noite. Segue o baile.

--

--

Natan Andrade
Revista Simbiose

Escrevo histórias de amor, de boteco e mais algumas coisas.