1%

Deua Medeiros
a terceira margem
Published in
2 min readDec 22, 2015

Daí que a pessoa acorda, e não tem nada que a anime a começar o dia. A vontade mesmo é de fechar os olhos e dormir por mais uns três anos, ininterruptamente. Isso só para poder carregar a bateria que ultimamente parece estar sempre em estado crônico, nas últimas, acabando, dando tudo de si. Mas aí você levanta mesmo assim porque a vida não para, a realidade é contínua e você tem que ir lidar com seres humanos e resolver as coisas da vida. Você tem que cumprir com suas obrigações, muito embora sua bateria continue no final, prestes a acabar e tudo que você queria era poder carrega-la sem sentir culpa. Mas isso não existe, porque até quando não se tem nada para fazer, a culpa está lá. Culpa de não saber o que está fazendo, se o caminho que está seguindo é o certo, se vale alguma coisa, se você não está só desperdiçando tempo, corpo humano e vida estando aqui e não sabendo de nada, nem o que deve ser feito quando acorda. Mas tá lá, e tá insatisfeita e não sabe o que fazer. Tenta buscar outras pessoas, sexo, diversão. Não, não é isso. Continua vazia, ainda tem a bateria por carregar. Fica só, se isola, sente vontade de morrer. Chora sozinha e para de comer. Pensa que tudo é um gasto: de dinheiro, de energia, de vida. Acha tudo um desperdício, um saco, uma coisa sem propósito. Não sabe nem como se explicar para si mesma. Sente o errado mas não sabe apontar de onde vem, nem exatamente o que está faltando, ou como conserta. Não sabe, e nesse não saber se perde tentando dar mil possíveis explicações, mil possibilidades de que se ao menos conseguir mudar só essa coisinha, se conseguir resolver só aquele probleminha vai ficar bem e sentir-se inteira. Não é verdade. Se perde em si mesma e segue a vida pela metade, de bateria fraca e propósito desconhecido, preferindo não estar lá.

Ilustração: Vitor Moura

--

--