Alto relevo

Bia Madruga
a terceira margem
Published in
1 min readDec 28, 2016

Perco os tempos olhando as veias saltadas no pulso e nas mãos, as unhas sem corte, amarelas e velhas, a carne velha por dentro da pele também amarelada, amarelecida, os caminhos que as veias fazem nesse percurso que sou eu,

Penso no percurso que não faço, no caminho de veias que não ando, as decisões que não tomo e escolhas todas que nunca fiz, que deixei que fizessem ou que acontecessem, enquanto tocasse alguma música que acalmasse o nervoso de ainda estar aqui,

Sem absolutamente saber pra onde devo ir, se devo ir.

Olho as veias como em alto relevo que já estão, pergunto se crescem assim para cima por conta de magreza ou de falta de ferros, pergunto por que elas não se escondem, se ainda haverão de crescer e subir mais, e me fazer perder os tempos vendo-as assim de perto.

Me convenço da incapacidade de tomar decisões sozinha, enquanto torço para que o tempo que perdi olhando os caminhos tortos pelos braços tenha produzido decisões que não tomei, que não terei, enquanto mais tempo passar.

As veias ficam mais verdes mais altas mais em alto relevo, correm fortes para as mãos que já são velhas muito antes do resto do corpo. Como caminhos que se adiantam para um futuro envelhecido e talvez já pretérito, já enrugado, porque previsível, medíocre, quase inútil.

Perco tempos e vejo o corpo seguir algum caminho e andar mais rápido que eu mesma, que o resto do corpo verdadeiro, que o espírito completo.

Estou pra trás. Completamente pra trás. As veias correm, eu fico,

Só.

--

--