Amo você

Bia Madruga
a terceira margem
Published in
2 min readMay 27, 2016

Eu sei mesmo que vai dar certo. Começamos muito tarde, é verdade. Desencontramos demais, muitas vezes, muito tempo, e cada um consigo, e nós dois, também, um com o outro. O encontro demorou. E quando veio, adiamos ainda mais. Um lado adiou, é verdade; o outro provocou. Ficamos nos demorando, vendo a vida passar e acreditando que o que tínhamos planejado, cada um, para si mesmo, iria dar certo. Nunca deu. É preciso estar junto para que algo dê certo, penso agora. Parece errado, penso imediatamente depois. Parece certo é acreditar que vá dar certo mesmo estando sós, estando sem nós, sem dois, sendo um. Mas não tem sido assim; não estava sendo assim.

Pois agora sei mesmo que vai dar certo. Com tudo que já deu errado junto com a gente, com tudo que ainda dá errado, com os pés no lugar das mãos e as duas cabeças mais distantes do que perto do pescoço. Às vezes altas, às vezes nas nuvens, às vezes naquelas montanhas para onde queremos voltar e ver de novo.

Estamos completamente atrapalhados mas cientes disso. Nossas cabeças pairam longe do chão, quase sempre, mas juntas, reconhecendo-se a cada mudança de humor e de planos — que nem mudam tanto, mais. Acho que continuamos meio desencontrados consigo próprio, mas totalmente em encontro; dois seres de desencontro que, juntos, fincam o pé e conseguem andar por dentro do caminho. Aliás, só conseguem andar por dentro do caminho se juntos.

Estamos assim agora, estamos assim faz tempo, e acho mesmo que seremos assim por mais tempo, por tempo inteiro, pelo nosso sempre — que acho que será, sim, pra sempre. E só assim conseguimos ser nós, ser cada um um nó, uma confusão no meio de um dia destrambelhado, um dia que começou mal, seguiu torto, e terminou tranquilo e calmo. E nosso.

Estamos assim agora. E eu sei que vai dar certo, mesmo assim, exatamente assim, apesar disso, principalmente por tudo isso.

Foto: Pedro Andrade

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