Antes insone

Bia Madruga
a terceira margem
Published in
1 min readJan 18, 2017

Eu vinha desconfortável dentro das roupas, dentro das camisetas e dos shorts já folgados mas que me apertavam e me levavam a um desespero que eu fingia que não via, fingia que não vinha, e me acomodava um pouco. Tomava vários banhos e vestia os pijamas mais velhos mais folgados mais caindo pelo corpo para que nada me apertasse. Eu deitava na cama e a roupa me apertava, sufocando, prendendo meu peito e minha respiração e me dizendo com fixação de que não haveria chance de ficar mais confortável do que aquilo.

Algo que me prendia.

Deitava na cama e o colchão afundava sem muita lentidão, eu encolhida no meio do sulco que o colchão fazia, sulco cada vez maior à medida que os minutos passavam. Queria outro banho, outro pijama limpo e folgado e de preferência de cor clara, porque minhas obsessões agora também variavam e tentavam resolver meu problema.

Sufocamento.

A roupa me esmagava e o colchão me punha pra baixo, eu era pleno desconforto e agonia dentro de um corpo que estava prestes a explodir mas que não explodia de jeito nenhum. Não havia forma. Não tinha jeito pra mim. Nem gritar eu quis, nem chorar consegui, tirei toda a roupa e dormi na cama desfeita com a cabeça onde deveriam ficar os pés. Respirei apressadamente depois lentamente apressadamente,

Parecia que eu não ia dormir nunca mais.

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