Cento e vinte quilômetros por hora. A paisagem como um quadro de Van Gogh. À esquerda, o mar. Me olha e diz que a ciência foi inventada por um poeta frustrado, e que o azul do céu é o resultado do bater de asas das aves migratórias. E as ondas do mar é o resultado do canto das baleias. Não vê a espuma senão como a porra que jorra do acasalamento no oceano.
Sorrio. Sorri. E acelero: são cento e cinquenta e dois quilômetros. E a paisagem parece um quadro do Matisse. Sem olhar me diz que as estrelas são olhos de lontras perdidas no espaço.
Paro o veículo. À direita da estrada. Desço e dou as costas para o oceano. Vou ao boteco de palafita, peço uma cerveja enquanto ela senta na cadeira e me olha, em silêncio, de um jeito como são feitos os cactos.
Levo uma cerveja. Entorna e me diz: me fala teu melhor poema no meu ouvido. E falo o que jamais falei pra ninguém só para poder sentir a tua mão quente estralar em minha cara.