Rodrigo Sérvulo
a terceira margem
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1 min readMar 29, 2016

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Cento e vinte quilômetros por hora. A paisagem como um quadro de Van Gogh. À esquerda, o mar. Me olha e diz que a ciência foi inventada por um poeta frustrado, e que o azul do céu é o resultado do bater de asas das aves migratórias. E as ondas do mar é o resultado do canto das baleias. Não vê a espuma senão como a porra que jorra do acasalamento no oceano.

Sorrio. Sorri. E acelero: são cento e cinquenta e dois quilômetros. E a paisagem parece um quadro do Matisse. Sem olhar me diz que as estrelas são olhos de lontras perdidas no espaço.

Foto: Pedro Andrade

Paro o veículo. À direita da estrada. Desço e dou as costas para o oceano. Vou ao boteco de palafita, peço uma cerveja enquanto ela senta na cadeira e me olha, em silêncio, de um jeito como são feitos os cactos.

Levo uma cerveja. Entorna e me diz: me fala teu melhor poema no meu ouvido. E falo o que jamais falei pra ninguém só para poder sentir a tua mão quente estralar em minha cara.

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Rodrigo Sérvulo
a terceira margem

Potiguar, radicado em São Paulo. Autor d'O diário de âncoras (2015); Casa é o seu 2º livro, resultado de mudanças, viagens e experimentos na escrita e culinária