Culpa cristã

Vanessa Augusta
a terceira margem
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2 min readFeb 1, 2016
Foto: Pedro Andrade

Costumo evitar proferir meus pensamentos. Não é sempre que tenho controle sobre como eles se formam e nem sobre as conclusões que eu chego. Outro dia pensei que os 25 já são uma idade boa para se morrer. Ando cansado o suficiente nesse quarto de século, quantos mais são necessários?

A maior parte das pessoas que tenho conhecimento escolheria morrer o mais velhas quanto pudessem chegar. Não posso concordar. Chega um determinado ponto que o ritmo se torna repetitivo, a música fica lenta e os passos imutáveis. É hora de deixar a pista.

Entendo quando dizem que os sonhos nos mantêm vivos. É verdade. Me pergunto o que sobra quando não os temos.

Não foi ideia minha pertencer a isso. Nem imagino de quem foi a brilhante invenção, mas gostaria de poder reivindicar. Obviamente, a alguém que pudesse resolver a situação, já que minha analista nada faz.

Tentei persuadi-la de que tirar a própria vida é uma das escolhas mais genuínas da humanidade; até sem me dirigir uma única vogal ela me repreende, como se eu tivesse confessado que pretendo o suicídio.

Só para tornar a história mais clara: eu não o pretendo. Tenho medos demais para tal. Além disso, cresci numa escola católica. Segundo eles lá, seria uma ofensa incalculável para o Senhor Deus; impossibilitando minha entrada em Seu Reino.

Engraçado porque tenho dúvidas no que acredito, mas a culpa cristã já foi projetada no meu subconsciente. Penso também que minha avó não ficaria feliz de não me encontrar pelos céus.

E embora nada do que se passou até aqui faça sentido, o lado positivo é que ninguém ouviu uma palavra.

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