Dentro de si ao avesso

Bia Madruga
a terceira margem
Published in
1 min readJan 5, 2017

Pois bem que devia ser isso, que eu estava passada do tempo de ser eu mesma já, por tempo demais estando assim, dentro de mim, existindo como se fizesse sentido em continuar tão igual. Mudança nenhuma. Por dentro dos cabelos tão feios e dos dentes com caninos mostrados, a voz de sempre, o cansaço sem sentido, eu só vinha cansada de continuar sendo, por aqui, por sempre, o que quer que eu fosse.

Que eu já tivesse sido.

Só desfiz os combinados e desatei os acordos do mundo comigo de mim com o mundo, com os outros, desfiz o feito com os outros, desisti de uma vez ao invés de se fazer aos poucos, posto que eu existia aos poucos já, há um tempo, há um tempo de todo o antes.

E desfiz tudo sabendo arrependida de antemão. Sabendo ser errada e estar errado, percebendo as sirenes de um corpo ansioso avisando com falhas no som sobre eu não estar certa ao mudar e não voltar atrás.

Eu por cansada de existir um pouco mais só me desfiz, desatei e tracei o caminho todo errado de uma vez. Todo errado de uma vez. Estava disposta e apanhar sentindo a dor, toda a dor, do que não fosse esperado de fazer. Para doer enquanto eu errasse, e repetisse, e não voltasse atrás nem fosse eu de novo. Era só o que eu pretendia e preferia por agora e amanhãs e sempres, não ser eu novamente.

Fui em frente duma vez.

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