Ficou sem futuro

Bia Madruga
a terceira margem
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2 min readFeb 11, 2017

Foi assim que percebeu, no depois, no quase muito depois, quando já ia na metade do caminho que não tinha muita volta. Disse que talvez tivesse volta, quem sabe, nunca se sabe, nunca há um nunca, não dá pra existir decisão definitiva assim, não dá. Mas que o caminho do depois tem o rastro da volta cada dia mais distante e apagado, e só muito pela frente, nele, fez-se notar do que agora realmente faltava.

Era futuro. Percebeu assim, no depois, no tardio, no caminho de passado apagado que o objetivo de ser dois era ver futuro a dois, que era o que mais justificava ser dois e não um, nunca mais um, nunca, viu?, o nunca. O presente de estar junto de alguém e de ter um passado eram dois detalhes; esses dois juntos no presente, com um passado, só continuariam a ser dois enquanto olhassem juntos para um futuro igual e bom. Futuro era o que de fato os unia, os fazia ser casal.

Amor era isso então, viver bem era isso então, ser feliz de jeito calmo era isso então também, era, deveria ser. Caminho pra trás se apagando, passado mais distante, cadê a volta, não sei mais o que se é possível fazer. Só soube mesmo que ficou ali, no caminho de rastro quase apagado, sem futuro. Tinha um, verdade, um futuro de um sujeito só, que era mais caminho que futuro. A palavra ‘futuro’ só fazia sentido, pensava agora, se era pensada em conjunto e em carinho e em expectativa boa e tranquila.

Amar era isso. Ter sido amada também: um olhar constante pro futuro. Agora só lhe sobrara o presente.

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