M de metáfora

Vanessa Augusta
a terceira margem
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2 min readMar 22, 2016

Tive prova de matemática de novo. Arquitetei junto à minha melhor amiga um esquema de cola; ela morria de medo de “cooperar” com o que eu chamo de minha única salvação. Então sempre preciso bolar um plano infalível, convencê-la de que nada dará errado e que ela não será prejudicada.

Como sempre, esperei que ela fizesse a prova tranquilamente, sem importuná-la, respeitando seu brilhante raciocínio matemático, além do perfeccionismo exagerado, para que já no fim do tempo hábil ela me passasse todo aquele emaranhado de números, incompreensível para mim, para que eu pudesse transcrever antes de tocar o sinal.

Só que assim que pus as mãos no “tesouro” o professor sugeriu uma dança das cadeiras fora do script, perdi-me nos cálculos, embaralharam-se os papeis. Deu-se início ao meu agonizante desespero.

Assisti um a um entregarem as provas e saírem da sala, triunfantes. Olhava para as folhas em branco, buscava no fundo da minha alma solução para aqueles problemas. Sem sucesso.

Provável que tivesse nos olhos aquele ar de cachorro desamparado implorando por comida; os colegas de sala viam e sentiam pena. Os que compartilhavam o sofrimento lançavam o penso no olhar de volta.

Acordei mais uma vez esbaforida do pesadelo. Derrotada, de novo.

A recorrência desse sonho escabroso dói no fundo da minha existência, sem importar o quanto se repita. Não é uma situação a qual consiga me acostumar. E se, por acaso, alguém estiver à procura de uma forma de tortura contra a minha pessoa, essa seria a mais indicada.

Entretanto, um adendo.

Para o meu completo desespero percebi que já estou numa infindável prova de matemática, onde não é possível criar uma estratégia minimamente satisfatória.

Adivinha quem está para reprovar?

Foto: Pedro Andrade

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