Manual da Reinvenção

aureliano
a terceira margem
Published in
6 min readMay 18, 2016

Sentir-se muito mal é perfeitamente normal. A constante disso é que pode ser um fator de preocupação. E nos últimos dias antes do começo do mês de maio eu estava me sentindo realmente muito muito mal. Tipo quando você está no fundo do poço e você percebe que tem outro poço lá dentro e “por que não?”. Esse é o problema de ter autossabotagem no gene. A gente não pode se entregar que bye bye.

Tendo consciência dessa minha condição, resolvi criar um método que consistia em uma pequena mudança por dia, durante dez dias, de modo que diariamente eu pudesse observar as implicações positivas da aplicação da atividade do dia e que essas mini-evoluções me empolgassem para o passo do dia seguinte. Cada dia eu fui documentando esse passo-a-passo e postando nas minhas mídias, sem falta. E funcionou pra cacete. Parece papo de gente positiva, mas acredite, eu não sou uma pessoa positiva.

Por isso resolvi compartilhar com vocês meu manual da reinvenção:

O primeiro passo foi um dos mais simples. Apesar de ter cerca de 4 mil emails não lidos, nessa hora eu pratico o desapego e vou apagando por palavra-chave. Não levou mais que duas horas, e me deu uma sensação de alívio maravilhosa.

Eu tenho o costume de me deixar levar pelo relógio biológico e esperar a hora que o corpo realmente pede pra desligar, que costuma ser lá pras 3 da manhã, e isso, invariavelmente, fode o meu desempenho no dia posterior e assim por diante. Mas desligar o celular é algo realmente mágico. Se você se coloca metas, tipo, desligar o computador às 23h e o celular às 23h30 e ir pra cama, você vai acabar dormindo. Ou pelo menos eu. Funcionou pra mim.

Mas mesmo dormindo direitinho e estando disposto no outro dia, se eu não tenho uma rotina delimitada eu vou acabar não tendo um bom aproveitamento. Porque, bem, por mais desorganizado que eu ache que sou, funciono muito bem com horários e cronogramas. E ter essas coisas expostas em lugares que você possa riscar as coisas que você já fez (parede ou agenda) acaba ajudando no sentido de você perceber que está fazendo coisas. E quando você percebe que está fazendo coisas o cérebro fica felizinho e libera uns quimicozinhos que fazem você ter vontade de fazer mais coisas.

Eu sou uma pessoa costumeiramente mal-humorada, então quando alguém me aparece com uma proposta que eu não sou a pessoa mais adequada a desempenhar ou que eu vou ter muito trabalho para fazer é muito provável que eu diga não. E se é algo que eu posso fazer eu geralmente digo não antes de dizer sim. O que, vamos concordar, é uma postura chata pra caralho. Mas eu não me incomodava tanto com isso até ler o Bossypants, da Tina Fey, porque tem um momento do livro que ela fala do poder de dizer sim pras coisas e foi aí que eu percebi que eu quase nunca dizia sim pra coisas que não me interessavam, e que eu podia, vez por outra, fazer uma coisinha não tão agradável assim pra ajudar alguém. E ter uma postura mais positiva sobre a vida, ou pelo menos tentar.

Voltar a fazer exercício quando você passou um tempo sem é como voltar para o inferno tendo experimentado o paraíso. E eu tinha passado algo de dois meses longe da academia, entre uma viagem longa e duas extrações de dentes sisos tenebrosos. Mas é necessário. Eu não posso negar que minha disposição é muito melhor quando eu tiro aquela hora do meu dia pra forçar o meu corpo à condições ridículas e sofríveis, mas quando eu lembro que consigo subir escadas sem bufar, o esforço paga.

Um pouquinho. Não precisa exagerar. Odeio estudar. Odeio forte. Mal consigo me concentrar na frente de assuntos que não me interessam. Como diria Angela Pavan: Sou pós-graduado em repelir tudo aquilo que não me interessa. Mas é preciso fazer algum esforço, se a gente precisa chegar em algum lugar. E no momento eu me coço por estabilidade financeira. Porque aparentemente nem todo mundo nasceu tendo condições de viver um estilo de vida texto-do-hypeness-larguei-minha-profissão-pra-correr-atrás-dos-meus-sonhos. E se eu quiser passar num concurso? Se o meu sonho for me aposentar aos 60? Sei lá se é. Não tenho certeza. Mas se for, pra isso eu tenho que estudar. Nem que seja um pouquinho de cada vez, até me acostumar.

Mágoa é um negócio muito pesado. Quanto mais você guarda, mais bagagem você tem que levar por aí. Perdoar aquela pessoinha vai fazer mais bem pra você do que pra ela. Não é um ato de caridade Madre Teresa de Calcutá com ela. É por você mesmo. É quase egoísta. E dá um alívio.

Eu tinha pedido pra entrar no grupo da família porque a minha avó estava muito doente e eu não queria ter as notícias em segunda mão. Mas vovó já está ok, inclusive já reclama de tudo (sinal de saúde). Então eu esperei a primeira piadinha babaca do tio mais babaca e pronto: “Você não pode mais enviar mensagens para este grupo porque você não é mais um participante.”

No caso esse passo se resume a não ter preguiça. Eu costumo fugir da louça e correr pra rede porque sou muito preguiçoso, só lavando em último caso. Mas como eu não sou maior nem melhor do que ninguém na minha casa, resolvi assumir a pia mais vezes.

Neil Gaiman diz: “Whatever it takes to finish things, finish. You will learn more from a glorious failure than you ever will from something you never finished.” Então é importante terminar. Responder aquele email. Finalizar aquele freela. Terminar de ler aquele livro. Zerar aquela demanda. Escrever aquela ideia até o fim. Tomar seu tempo pra fechar os ciclos. E eu sei, que muitas vezes dá medo, e eu sei que muitas vezes o que a gente tá fazendo pode parecer ridículo e pode parecer que todo mundo vai zombar da gente, mas, uma vez que faz bem pra você e que te faz abrir aquele sorrisinho interior, então é porque vale a pena concluir.

Se dê uma chance. Reinvente-se!

@oiaure

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