Pouco e ruim

Vanessa Augusta
a terceira margem
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1 min readMay 12, 2016

Não era um homem de muitas palavras. A introversão, no entanto, não era o problema; longe ainda da puberdade, gozava de mulheres experientes nos cabarés em que seu pai o levava. Viveu desde logo a sensualidade da existência e se perdeu nela. Fora, antes de mais nada, apaixonado pela putaria. E isso envolvia mulheres, quantas fossem.

Mal sabia tratá-las fora da cama, fazer gracejos, envolvê-las de gentileza. Sua linguagem era outra. Não envolvia palavras.

Por sorte era galante, tinha um charme bruto, meio selvagem, mas o olhar carinhoso de onde deixava escapar um lado imaculado, imperceptível à primeira vista.

Uma vez que se deixava envolver em discussões desatava a falar. Com frases mal articuladas, é verdade, e quase sempre possuído de razão. Embebido de doses ardejantes a autoridade virava seu nome, mesmo sem o sê-lo.

Nunca levantou a mão a quem quer que fosse, até sentir uma fúria súbita ao ver o pai encostar na mãe.

Nesse dia, descobriu como falar com as mãos e também com os pés. Aprendera com o pai pouco e ruim de quase tudo na vida, até que chegou sua vez de ensiná-lo uma lição.

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