Saudade grave

Bia Madruga
a terceira margem
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2 min readFeb 16, 2017

É quase sempre nos fins dos dias que eu penso, que eu lembro, que eu imagino que qualquer dor poderia ficar mais leve agora, se ainda pudéssemos estar juntas. Se eu pudesse ir até sua casa depois de um dia onde desse tudo certo ou onde desse tudo errado, ou depois de um dia no qual só acontecesse uns nadas, e eu pudesse ir até você e não precisaria nem de abraços longos nem beijos perfumados nem conversa de verdade. Não precisaria de nada. Só precisaria que eu fosse, te visse, nos víssemos, estivéssemos lado a lado, em noventa graus, cada uma numa ponta da mesa, você de frente para rua e eu de frente para a tv onde não assistiria a nada.

Penso nisso nos fins dos dias e penso nisso também quando a dor dói mais, quando o desespero sobe mais o nível de será-se-aguento-novamente, quando ficar sozinha e sentir-me sozinha é tão difícil que choro sem perceber. Penso em nós quando choro sem perceber. Imagino como seria mais leve qualquer tristeza se você estivesse na mesma cadeira e eu pudesse me chegar lá agora mesmo. Voltaria para casa outra pessoa e amanhã seria outro dia melhor e a partir de hoje seria outra vida melhor também.

Se eu pudesse ir sentar ao seu lado e conversar quase nada e assistir a quase nada e comer quase nada também, só tomar um café meio fraco, meio chá, se eu pudesse esses poucos para mim já seria muito, seria o tudo exato que eu preciso agora e daqui pra frente.

Penso em como vai ser daqui pra frente e já antecipo que não-sei-se-aguento outra vez. Antecipo outra vez. Quase choro novamente sem perceber, e acho mesmo que choro por dentro, sem lágrimas, sem que vejam nem saibam, mas sinto uma tristeza que pesa no meio dessa saudade grave.

Com você por perto qualquer dia ruim era bom, voinha. Eu tinha você por perto para me salvar do mundo inteiro.

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