Foto: Pedro Andrade

“The universe doesn’t care.”

Virgínia Fróes
a terceira margem
Published in
2 min readDec 14, 2015

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Era tão pequeno. Pelo menos era assim que a mãe o via. Mesmo assim, já queria ser um astronauta. Não se sabe de onde havia tirado aquela ideia. Talvez já tivesse nascido com ela. Quando o perguntavam sobre seus motivos, não sabia explicar. Queria e pronto. O céu sempre lhe pareceu algo magnífico. Uma lugar de aventuras emocionantes por onde todos os seus heróis já haviam estado. De tanto insistir, acabou por ganhar um telescópio que não largava nem pra dormir e com o qual observava as estrelas da janela do seu quarto. Nunca esqueceu o dia em que conseguiu avistar Vênus e se lembra até hoje do pedido que fez para sua primeira estrela cadente. Podia passar a noite toda observando o céu até que o sol surgisse ou que o sono finalmente o vencesse.

Se tornar astronauta parecia ser a única coisa que realmente importava. A mãe acabou por não leva-lo a sério e com o passar dos anos tentou fazer com que ele seguisse uma carreira um pouco mais promissora aos olhos dela. O pai, não estava lá. A mãe disse que ele havia feito algo do tipo “sair para explorar novos planetas”. A inocência da infância permitiu que achasse que seguiria o caminho do pai um dia.

Não tinha irmãos e muito menos amigos. Era tímido demais para falar sobre algo que não fosse o espaço e talvez as pessoas achassem que aquele menino que vivia com os olhos no céu e a cabeça na lua não seria uma boa companhia. A solidão, que as vezes parece ser tão grande quanto o universo, fez com que se recolhesse dentro seu próprio ser e virasse cada vez mais seus olhos para o alto. Cresceu sendo visto como um estranho. Estava sempre sozinho. Coisas da vida.

Pelo menos pode-se dizer que era uma pessoa que lutava por seus sonhos. Foi até o fim. Esqueceu o nome do primeiro amor mas sempre lembrou quais são as luas de Júpiter. Não casou nem teve filhos mas conseguiu ter estrelas com seu nome. Passou vários de seus aniversários sendo pesado, medido, classificado e testado por toda uma equipe de cientistas que o conhecia apenas pelo carinhoso apelido de “Piloto de teste número 04”. Estava fora de órbita quando sua mãe faleceu. Ele se lembrou dele quando olhou para o céu pela ultima vez.

E estava lá finalmente. Aquela imensidão bela. As estrelas,os meteoritos, a poeira cósmica… Era exatamente como seus sonhos. Estava lá finalmente. Um silencio imenso o cercava. Silencio… Tão silencioso… O universo é tão grande. E ele era tão pequeno. E tão solitário.

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