Um tempo

Ilustralu
a terceira margem
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2 min readApr 9, 2015

Já tem um tempo, né? Engraçado como a gente consegue se acostumar. Eu troquei a cortina lá de casa e até comprei um jogo de copos bonito pra me distrair. Umas comidas vencidas do armário, eu joguei fora e os presentes que você me deu quando a gente ainda tava junto também. Eu ainda não consigo ouvir música, desde que você fechou a porta da sala sem fazer barulho e não me pediu pra voltar. Eu me acostumei com o silêncio, sabe.

Meu celular não tem mais o seu número, desde aquele dia. Eu fiz questão de apagar como se fosse fazer alguma diferença já que eu sei a ordem exata dos números, sei o CEP de onde você mora, sei daquele sinal que você tem na parte de trás da coxa e sei do tamanho do medo que você tinha de que um dia sua mãe soubesse da gente. Ela nunca gostou muito de mim, não é? Pelo menos agora vocês parecem ter isso em comum.

Tem alguma coisa que sempre me traz de volta pra você. Não importa o que eu esteja fazendo ou com quem eu esteja. Às vezes é o som da sua risada que passa por mim num dia corrido e eu olho pra trás. Às vezes são as luzinhas espalhadas pela cidade que me lembram a primeira vez que vi você. Às vezes sou eu que procuro o seu abraço quando me aproximo de outra pessoa. Às vezes nem é nada, é só costume antigo. Eu fecho os olhos e sinto você aqui comigo até que eu lembro que não sinto mais.

Então se der, se não for incomodar, abre pra mim a porta? Eu tô aqui fora. É que deu saudade. É que já tem um tempo.

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