Vivendo

Deua Medeiros
a terceira margem
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1 min readJan 15, 2016

O ruim é que as vezes me canso da lida

E me pego num mundo imaginário

Estou presa num conto do vigário

Que todos os outros chamam de vida

E não falo das injúrias

Das quais meu corpo é depósito

O que me falta na vida é propósito

E o que me sobra nela é lamúria

Luto uma guerra de amargura

Na qual minha arma é a caneta

Me sinto de outro planeta

Ou como um doente sem cura

Sobre mim paira nuvem pesada

Destas prestes a chover

As vezes penso que a saída é morrer

Mas as vezes acho que há outra estrada

Vivo um vazio superlotado

E um silêncio ensurdecedor

Ando flutuando em torpor

Com o meu coração derrotado

Os remédios na hora marcada

Pouco diminuem o meu anseio

Me pego sempre com o mesmo receio

De que a vida não seja nada

Nesse fogo infernal que ardo

Peço a Deus alguma misericórdia

Em outra vida devo ter semeado discórdia

Para merecer tão triste fardo

Depois de ver o corpo exaurido

Nem adianta falar da luta

Pois a vida vem, tal qual puta

Cobrar aquilo que lhe é devido

Reclamo!

Tenho o direito de assim fazer

E penso que vou enlouquecer

Por não saber ser aquilo que amo

Mas nem tudo vai tão mal!

À noite eu ainda me calo

Só estou cansada do imenso trabalho

Que é parecer normal.

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