A vida prévia de Ash Cobalt

Part 1 - Uma casa no Kansas

Alcimar Veríssimo
A vida prévia de Ash Cobalt
3 min readMar 10, 2017

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Esta leitura está dividida em 5 partes e conta a história de Ash, um rapaz que viveu antes, durante e depois da segunda guerra mundial e resolveu buscar sua história que até então era desconhecida. Apesar de estar complementada com ficção, todas as datas históricas e a maioria dos acontecimentos são reais. Espero que goste!

Meus falecidos pais me contaram que durante a guerra aconteceram coisas que mudaram a história de muita, mas muita gente, inclusive a minha. Meu nome é Ash Cobalt e até onde eu lembro, nasci em 3 de maio de 1945. Curiosamente um dia após o fim da campanha da Itália na segunda guerra mundial , mas eu conheci uma história anterior a esta data.

Eu morei com meus pais durante bastante tempo, mas eu me sentia como um peixe fora d’água naquela casa que rangia toda vez que um vento forte soprava na vizinhança. Nossa casa ficava em Camp Funston, Kansas, cidade de aproximadamente 1,400 habitantes. A vida não era nada fácil naquele tempo, no único quarto da casa eu podia contar com um ou dois travesseiros de palha que simulavam meu conforto e algumas armas de combate que meu pai colecionava. Na sala, nada além de um móvel de centro onde minha mãe empilhava as fotos de família, que por sinal, eu não aparecia em nenhuma delas. Na cozinha era fácil encontrar garrafas de cerveja vazias que meu pai insistia em juntar ao lado da pia. Ele já tinha arrumado muitos problemas com relação ao álcool, mas nunca pensou em parar de beber. Na frente da casa existia um poço d´agua que servia como criadouro de bagres, uma espécie de peixe originária do rio Mississippi, nos Estados Unidos.

Esses eram os únicos cômodos da casa. O banheiro ficava numa parte separada a 15 metros de distância, quase no final do cerco de nosso terreno, que por sinal era um dos maiores da vizinhança. A comunicação era coisa rara entre nós, quase impossível na verdade. Conversávamos apenas o necessário e geralmente o necessário não acrescentava nada na vida de ninguém. E assim eu fui vivendo o que mais tarde não me preocuparia em esquecer.

“Ahh se não fosse aquele tiro que acertou em cheio o motorista do Jeep…”.

Vendedor de Chapati - Imagem do Google

Algumas ruas depois do nosso quarteirão, havia um rapaz estrangeiro que vendia Chapati, um tipo de pão de origem indiana que eram preparados com uma farinha de trigo integral especial. Todos os dias meu pai comprava uma sacola com três Chapatis, um pra mim, um pra ele e outro pra minha mãe. Aquela massa fina parecia ser o alimento principal no café da manhã de todas as famílias.

Eu ainda era novo, mas já observava nos telejornais da época que o país poderia acabar se envolvendo numa guerra futura. Então, como toda criança, eu ficava fascinado com a ideia de me tornar militar quando chegasse na maior idade. Seria um futuro brilhante segundo meu pai, que por motivos de saúde não conseguiu servir ao Exército.

Durante as noites era fácil observar como o tédio nos abraçava. Na mesa de jantar ninguém conseguia terminar uma refeição sem que perdesse a razão. Geralmente o motivo das brigas eram os mesmos. Dinheiro, vida fracassada, alcoolismo, filho problemático… As discussões seguiam até depois do telejornal e se arrastava até a hora de dormir. Eu fingia não ouvir nada daquilo e logo em seguida pegava no sono que nem sempre durava até a manhã seguinte. Eu sempre tive o talento de acordar durante a madrugada e ficar ouvindo o rangi do telhado. E sempre que isso acontecia, um forte vendaval estaria por vir.

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