A ti musa ausente
Atravesso esta árida manhã. Árida como a tua ausência. Eu sangue, veias e ossos, a manhã pontes, edifícios e linhas que se cruzam.
A minha alma está fria desde que me deixaste, e em vão enterro as mãos nas algibeiras como se fosse desse calor que precisasse. É este cinzento, este cinzento atroz, das nuvens ou da minha vontade.
Avanço indiferente ao bulício humano que me circunda; eu sou de outra espécie, inanimada e vazia de propósito; garrafa desfeita em estilhaços que nada contém, e nada sacia.
Tu musa, roubaste-me o Sol, mas da profundidade da dor eu me levanto, para sentir de novo o sal nas feridas e o bailado cíclico das ondas. Noutra musa me reflicto, e nova vida nasce em mim. De ti me esqueci já, musa que anoiteces. Oiço o mar ao longe.