Não são mais pessoas, são produtos.
O lugar é escuro.
E não por falta de luz.
Mas porque os seus olhos estão vendados.
É úmido. De um jeito que dá calafrios.
O cheiro é desagradável.
Ninguém deveria passar por uma situação como essa.
As únicas coisas nítidas, são as vozes.
De um lado, gargalhadas, vozes roucas de homens eufóricos e animados. Existe uma novidade no ar.
De outro lado, alguns gritos abafados.
Talvez por mãos, mas alguns interrompidos por tapas mesmo.
Parecem mulheres. Provavelmente são mulheres.
Mas não são tratadas como tal.
Sim. Dá pra ouvir as crianças também.
Meninas na maioria.
Elas parecem apavoradas.
Deveriam estar mesmo.
Algo não está certo.
Não pode estar.
Mas será que são crianças mesmo?
Só dá para saber porque entre todas essas vozes.
A respiração delas é ofegante.
Com choramingos e desespero.
É tão forte que escapa através de gritos e gemidos.
Calados por mais tapas. E por palavras tão sujas como aquele chão.
CALA ESSA BOCA &@$#@
Elas sabem que algo muito ruim está por acontecer.
É uma cela. São várias celas. Umas com camas.
Outras só com o chão frio mesmo.
Pra quê?
Um rodízio.
Rodízio de gente. Homens famintos. Mulheres e crianças indefesas.
Acorrentadas.
Esperando o pior acontecer.
Mas isso não é o pior ainda.
Elas só estão na fase da pré-seleção.
O testdrive que vai roubar a inocência. O trauma que vai arrancar a dignidade.
Não são mais pessoas. São produtos. Objetos.
Que servem para o uso que os seus “donos temporários” quiserem dar.
Simples assim.
Sem um pingo de humanidade.
Só por dinheiro. Compra e venda.
Parece narrativa de filme.
Mas é realidade para mais de 21 milhões de pessoas que são traficadas a cada ano no mundo.
#TráficoHumano
É sobre isso que vamos falar nos próximos posts do #a4k
O primeiro passo é falar.
Falar até que as pessoas se conectem para ser uma resposta para essas pessoas. (Sim, está repetido. Porque deveria ser assim. Pessoas se importando com outras pessoas.)
É possível transformar esta necessidade. Você pode fazer algo.
