Não são números, são crianças

Letícia Leme Marques
A4K SOCIAL IMPACT
Published in
3 min readJul 1, 2017

No último mês, o #A4K trabalhou forte pesquisando o universo da #ProstituiçãoInfantil

Foi muito difícil pesquisar sobre uma realidade tão cruel.

Tão abusiva.

Tão usurpadora.

Foi de longe um dos trabalhos mais difíceis de realizar.

Os textos foram escritos em lágrimas.

Os roteiros dos vídeos, os posts.

Nunca doeu tanto.

Trouxe aquele nó na garganta de quem precisa ver algo mudar.

A gente imaginou a dor dessas crianças.

Não só no corpo exausto após uma rotina de “atender” 5, 10, 20 homens em uma só noite.

Mas a dor de cada pedacinho da dignidade sendo mutilada.

Imagine quantos milhões de sonhos roubados.

Com a inocência tirada a força.

Crianças que perderam a voz.

Engoliram o choro.

Perderam o brilho nos olhos.

Esqueceram até a da sua identidade.

E da noção do que deveria ser um ser humano.

Sem enxergar o respeito que deveria ser aplicado ao seu corpo.

Seu espaço. Seu ser.

Imaginamos cada solavanco de uma relação sexual forçada, roubando e eliminando toda e qualquer possível esperança.

E tudo isso para quê? Por quê?

Para que alguém lucre com todo o dinheiro que o corpo de uma criança pode trazer. E para que alguém o tenha prazer que pagou para receber.

Uma das inversões mais absurdas do que deveria ser o prazer. Ou melhor, é só uma ótica egoísta em que o prazer custa o futuro, a esperança e a doçura de uma criança.

Os números são assustadores. Mas eles não são a pior parte.

Porque na verdade, não são números, são crianças.

Crianças.

Como o seu sobrinho, sua filha, seu priminho mais novo, ou aquelas crianças sorridentes que moram na sua rua.

Atrás de cada uma das 3 mil crianças que são inseridas (à força) na prostituição todos os dias, existe uma história.

Talvez de alguém que cuidava dos brinquedos, sonhando em ser médico. Ou a menina que colocava seus ursinhos sentadinhos para assistir a aula que daria quando se tornasse professora.

Poderia ser também daquela garota com talento nato para cozinhar que adorava fazer biscoitinhos para o lanche.

Poderia ser um monte de coisa.

Mas se a gente não fizer alguma coisa,

Não será nada.

Terá menos valor do que uma bolsa ou um brinquedo, porque no nordeste brasileiro, você consegue sexo com uma garota de 10 anos, pagando R$10,00. (Uma bolsa certamente custa mais que isso).

É isso. Não tem mais nada.

Não tem mais voz.

Não tem mais cor.

Não tem mais sonho.

Nem esperança.

Nem perspectiva de futuro.

Nem mudança.

Nem nada.

É por isso que a gente tem que fazer algo.

E tem que fazer agora.

Quem está sendo abusado enquanto você lê esse texto, quem é vendido agora pela décima vez no dia para um estranho que vai tocar, machucar e violar o seu corpo não tem mais tempo para esperar.

Tem que começar agora!

A nossa parte foi te mostrar a realidade.

A escolha é sua de continuar achando que esse tipo de coisa não acontece de verdade ou entrar nesse jogo para mudá-lo.

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Letícia Leme Marques
A4K SOCIAL IMPACT

Planner e integrante de uma rede global de pessoas que vai mudar o mundo.