Goiás — Audiovisual, Educação do Campo e Agroecologia

ABA Agroecologia
ABA Agroecologia
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4 min readAug 19, 2017

Quando ficamos sabendo que receberíamos uma oficina de sistematização no nosso Gwatá, Núcleo de Estudos em Agroecologia e Educação do Campo criado em 2010 na Cidade de Goiás/GO, logo pensamos: “Sistematizar? Colocar alguma coisa em ordem, organizar elementos em um sistema? Talvez tornar coerente o que não esteja.” E com isso em mente realizamos nosso encontro nos dias 16 e 17 de abril de 2017, relembrando toda nossa trajetória.

Bom, pelas experiências anteriores ficamos tranquilas com o desafio da sistematização, pois sabíamos que viriam pessoas bacanas para que dialogássemos e construíssemos juntos processos importantes; até porque, o que mais nos esbarramos durante a caminhada foram com pessoas bacanas.

E não é que estávamos certas! Chegamos na Escola Família Agrícola de Goiás (EFAGO) bem cedo, tomamos café da manhã e fomos para a roda, uma das melhores coisas que aprendemos no Gwatá foi partilhar momentos em roda. Entendemos que é uma forma de encontro, de conhecer não só as pessoas, mas também a si mesmo (a), lugar onde todos (as) têm a oportunidade de se olharem e dialogarem sobre o sentido de estar presente ali, naquele momento. A roda é uma forma de linguagem, uma prática social milenar, e como dizia Paulo Freire: “O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”.

E como dialogamos! Tornamos nossos sentimentos e experiências em rio, o “Rio do Tempo”, em um tempo que é o agora, o que já passou e o que virá. Um rio com matas ciliares, curvas, quedas, que ultrapassa obstáculos, ora estreito ora largo, com elementos que ficam mais no fundo, outros que ficam mais visíveis e alguns que surgem no momento exato. E o que seria de um rio sem suas matas ciliares, que podem ser traduzidas nas parcerias; sem a água expressada na forma dos temas norteadores — Educação do Campo, Agroecologia, Luta Pela Terra e Juventude; sem os seres que são os integrantes desse núcleo; sem os sedimentos revelados nos projetos, nas ações, nos acontecimentos; sem a correnteza essa traduzida em momentos de dificuldades, de obstáculos, de conflitos e incertezas, mas por fim vem a calmaria que expõe a existência de avanços, que há sim o que se comemorar. O que seria do rio Gwatá, sem algum desses elementos? Ele simplesmente não seria.

Reunidos ora em grupos menores, ora no coletivo, conversamos, escrevemos, apresentamos, refletimos, auto analisamos, debatemos, cantamos e dançamos, trocamos experiências e experimentos, invocamos nossos ancestrais. Isso tudo para falar de uma palavra que é extensa em sua ortografia e também em seu significado: AGROECOLOGIA. Falar em agroecologia é falar ao mesmo tempo de uma ciência costurada com práticas, saberes, fazeres, sabores, movimento, de cria e recria, de família, de mulheres, de transição, de uma educação contextualizada, de agroecossistema, de território, de ações coletivas, de biodiversidade, de conflitos, de luta, de caminho, de presente e de futuro, de disputa de “projeto”, de soberania, de harmonia… É falar de VIDA que se VIVE.

Cantamos o cerrado e as forças da natureza, dançamos a ciranda, todas e todos de mãos dadas com o propósito de sermos cada vez mais fortes e conscientes de que temos a missão de espalhar as práticas agroecológicas nesse planeta que pede socorro, pede respeito, pede atenção. Assim, os camponeses, indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais também pedem um olhar atencioso, afinal são os guardiões dos saberes da terra, das sementes crioulas: as sementes da vida e para a vida.

E é exatamente isso que tentamos fazer quando nos reunimos nos núcleos ou com os núcleos; plantar uma sementinha no coração de cada um. Sistematizar é colocar em ordem, mas não essa ordem imposta, que apenas se obedece. A nossa sistematização é também para escutar, o que precisamos é ouvir a natureza, a terra que nos dá o alimento, parar para sentir o que ela quer nos transmitir, pois fazemos parte da natureza e estamos intrinsecamente ligados (as) a ela. Sendo assim, precisamos lutar por igualdade e justiça social, reforma agrária popular, equilíbrio do planeta, soberania alimentar e emancipação humana, mídia livre.

Vivemos dois dias de muito aprendizado, experiências riquíssimas que somente esses encontros podem proporcionar, é de suma importância o contato e a rede que formamos através da agroecologia. A frase que nos define no momento é — Seguimos na LUTA!

Adriane Martins Botelho e Gleida Gutielle da Silva Melo

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